Desde sua queda no Éden o homem tem procurado com avidez a salvação, o restabelecimento do favor divino, mesmo que às vezes tenha tentado por suas próprias e parcas forças conseguir este dom tão maravilhoso; da parte divina, o eterno propósito de Deus para com os homens, após o pecado, é a salvação destes (Is. 55:7-9; Lc. 19:10; I Tm. 2:3,4; Tt. 2:11; II Pd. 3:9) e isto inclui o restabelecimento deles ao seu estado inicial de pureza e santidade. A salvação não é só um ponto em nossa história, ela não é uma vez salvo, salvo para sempre. Esta salvação é mais bem apresentada sob três aspectos: justificação, santificação e glorificação.
Como afirma LaRondelle: “A plenitude da salvação abrange não só o perdão dos pecados como a restauração da imagem moral de Deus no crente arrependido e, por fim, a redenção do humilhado corpo e de todo este planeta, que ainda se acha sob o domínio da decadência (Rom. 8:19-25; Fil. 3: 20, 21; Apoc. 21, 22). Há, portanto, três aspectos da salvação: justificação, santificação, glorificação, todos englobados na plenitude do evangelho eterno que Deus, neste tempo do fim, tem restaurado a fim de ter um povo pronto para encontrar seu Senhor por ocasião da Vinda de Cristo em glória (Apoc. 14:6-12; Tito 2:11-14; I Tess. 5:23).” [1]
Bem, esta “plenitude da salvação” pode ser vista nos alimentos pascais e também na cerimônia da santa ceia, e este assunto será tratado agora neste artigo.
Os símbolos pascais e a salvação
No capítulo 12 de Êxodo tem-se o relato da instituição da Páscoa e no verso 8, falando dos alimentos a serem ingeridos naquela ocasião lê-se o seguinte: “naquela noite, comerão a carne assada no fogo; com pães asmos e ervas amargas a comerão.” (ver também Nm. 9:11)
É muito importante para os cristãos aprenderem lições da páscoa hebréia, principalmente de seus alimentos. É bastante falado sobre o cordeiro, e pouco se fala sobre as ervas amargas e os pães asmos, porém veremos algo significativo sobre eles. Há um relato judeu que fala sobre estes três alimentos e explica o porquê deles: “Pessach (sacrifício pascal, e festa da páscoa) – porque o Senhor passou sobre a casa de nossos antepassados, Maror (ervas amargas) – porque os egípcios amargaram a vida de nossos ancestrais no Egito, Matzá (pães asmos) – porque eles [os judeus] foram redimidos”[2] (colchetes acrescentados). Ver-se-á de agora em diante como estes alimentos relacionam-se com a plenitude da salvação.
I. Cordeiro – Mostra a Justificação
1 – Dos primogênitos judeus
O cordeiro pascal foi dado primeiramente para relembrar a salvação que Deus efetuara em favor dos primogênitos israelitas livrando-os da morte. O anjo da morte passou sobre o Egito , mas na casa dos israelitas que tinham o sangue do Cordeiro nas portas este anjo não entrou, trazendo alegria para os pais. Todos tinham que comer, pois se beneficiariam desta salvação e ainda o comeriam com pressa e vestidos como viajantes, porque iriam sair do Egito. Neste sacrifício do cordeiro nota-se a clara idéia de substituição, um dos temas centrais quando se fala de justificação; o cordeiro foi morto em lugar do primogênito da casa, e não só a morte do animal, mas a fé que os fez seguir todas as instruções divinas livrou-os da tragédia. Assim têm-se substituição e fé no meio que Deus providenciou para salvação – elos da mesma corrente chamada justificação pela fé. Ellen White acrescenta: “Antes de obterem liberdade, os escravos deviam mostrar fé no grande livramento prestes a realizar-se. O sinal de sangue devia ser posto em suas casas, e deviam, com as famílias, separar-se dos egípcios e reunir-se dentro de suas próprias habitações. Houvessem os israelitas desrespeitado em qualquer particular as instruções a eles dadas, houvessem negligenciado separar seus filhos dos egípcios, houvessem morto o cordeiro mas deixado de aspergir o sangue nas ombreiras, ou tivesse alguém saído de casa, e não teriam estado livres de perigo. Poderiam honestamente ter crido haver feito tudo quanto era necessário, mas não os teria salvo a sua sinceridade. Todos os que deixassem de atender às instruções do Senhor, perderiam o primogênito pela mão do destruidor.”[3] Mas esse símbolo se estende até à era cristã e simboliza uma libertação maior.
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2 – De todo aquele que crê em Jesus.
Deus tinha escolhido Israel como Sua testemunha para anunciar a salvação (Is. 43:10,12); dado festas que relembravam Sua atuação histórica em favor do povo eleito (Lv. 23), e uma destas festas era a páscoa, tendo esta, um sentido especial de libertação e de patriotismo judeu. Porém, o cordeiro pascal era apenas um tipo limitado do antítipo maior que o novo testamento aponta como sendo Jesus Cristo. Em I Co. 5:7 diz que “... Cristo, nosso cordeiro pascal, foi imolado”. Ora foi morto em nosso lugar (substituição) “nosso cordeiro”. Como o cordeiro pascal trazia à memória uma libertação física e nacional, Jesus o cordeiro de Deus (Jo. 1:29) não só lembra, mas verdadeiramente através de Seu sacrifício provê a todo aquele que aceitar (seja judeu ou gentio) uma libertação espiritual e Universal. O ser humano que “crê em” e “recebe a” Jesus como seu cordeiro substituto tem destronado o pecado de seu coração (Paulo insiste com os crentes a não permitir que o pecado reine sobre eles – Rm. 6:12-14) e passa a desfrutar de liberdade e paz mental, possui a salvação, está justificado e isto pela fé. O crente é agora súdito de um novo Rei, pertence ao reino de Deus, obedece às leis deste reino por amor e não por obrigação; e se um dia quiser (infelizmente) abandonar esta nova vida tem ele plena liberdade para fazê-lo, tal a natureza do que foi realizado nele e para ele, porém se desejar permanecer com Deus a cada dia, pelo sacrifício vicário de Cristo, tem ele a certeza de ser constantemente justificado sempre que o precisar (I Jo. 1:7,9)[4]. Então o cordeiro pascal mostra a justificação pela fé.
II. Pães asmos – Mostram a santificação
1 – De Israel
Os judeus consideravam os pães asmos como uma lembrança da redenção de Israel. Redenção é uma palavra que indica o livramento de pessoas da servidão[5]. Como os judeus saíram às pressas do Egito os pães não puderam levedar, desta forma eles fazem a ligação, os pães lembram-lhes que saíram livres às pressas do Egito (ver Ex. 12:39. Embora os pães da saída do Egito tivessem fermento, a exclusão da levedura na páscoa apontava para o momento de libertação onde os pães não puderam levedar). “Quando consumiam pão sem fermento, os israelitas estavam relembrando a precipitação com que haviam abandonado o Egito, e tudo quanto de mal representava, o que se sucedeu por ocasião do êxodo em meio a grandes prodígios divinos, desde algum tempo antes, e ainda por muito tempo depois” [6]. Mas, além de apontar a redenção, os pães asmos estão intimamente ligados à santificação posterior à salvação, isto também está relacionado ao pão não levedado[7], posto que também o fermento é um símbolo do pecado e do mal (Jesus compara o fermento a ensinos falsos dos fariseus e saduceus [Mt. 16: 6,11,12]. Em Mc. 8:15, Jesus acrescenta além dos fariseus, a Herodes; em Lc. 12:1, Jesus diz que o fermento dos fariseus é a hipocrisia; em I Co. 5:6-8, Paulo diz que o cristão é sem fermento, por isso não deve ter ou precisa jogar fora a levedura da maldade e da malícia e ter os asmos da sinceridade e da verdade, apesar de noutra ocasião Jesus compará-lo a algo bom [Jesus usou como ilustração a capacidade expansiva do fermento na levedação como símbolo do crescimento de Seu reino – Mt. 13:33; Lc. 13:20,21. Não se deve estranhar um símbolo ser utilizado para representar coisas boas e más, e.g.: Cristo é descrito como Leão em Ap. 5:5; e Satanás também o é em I Pd. 5:8]), por isso nesta festa especial (a páscoa) o fermento devia ficar de fora das casas dos israelitas. Bem como deve ser retirado da vida do cristão
2 – Dos Cristãos
O fermento tinha a conotação de impureza moral e pecado, então comer estes pães significa querer uma vida sem este fermento e consequentemente ele é um símbolo da santificação que Cristo proporciona hoje. Então os asmos apresentam para os cristãos o processo da retirada do fermento do pecado, santidade, embora seja um processo de toda uma vida. Veja o que Ellen White Diz concordando com a aplicação do fermento com o pecado: “Cristo está ainda à mesa em que fora posta a ceia pascoal. Acham-se diante dEle os pães asmos usados no período da páscoa. O vinho pascoal, livre de fermento, está sobre a mesa. Estes emblemas Cristo emprega para representar Seu próprio irrepreensível sacrifício. Coisa alguma corrompida por fermentação, símbolo do pecado e da morte,podia representar ‘o Cordeiro imaculado e incontaminado’. I Pedro 1:19”[8] (Grifo acrescentado). Então os pães asmos mostram a santificação, uma retirada do pecado da vida do cristão.
III. Ervas amargas – Mostram a libertação (Glorificação)
1 – Do Cativeiro egípcio
O amargor simboliza aflição, miséria e servidão (Êx. 1:14; Rt. 1:20; Pv. 5:4), a iniqüidade (Jr. 4:18) e também o luto e a tristeza (Am. 8:10). Os israelitas comeriam as ervas amargas para relembrar a amarga escravidão que haviam sofrido no Egito[9]. Lá eles eram açoitados, mortos, passavam muitas dificuldades, não podiam servir a Deus direito, já que tinham sempre que trabalhar, pois estavam subordinados a seus senhores. Era verdadeiramente uma vida de amargura, mas ao comer as ervas eles tinham um sabor paradoxal em suas bocas – o de doçura; a doçura da liberdade, de saber que agora estavam livres da escravidão e que podiam ser felizes graças a um ato poderoso e misericordioso de Deus (um livro em Ap. 10 tem as mesmas duas nuanças amargor/doçura, contudo com seqüência diferente, primeiro o doce, depois o amargo).
2 - Do Cativeiro do Pecado
Apesar de Jesus ter plenamente salvo os que nEle crêem, e isto pela fé (justificação), de estar trabalhando em prol da retirada do poder do pecado das vidas dos crentes (santificação), ainda não ocorreu a exclusão da presença do pecado (I Jo. 1:8, 10), pecado este que torna a estada dos salvos neste mundo amarga; e isto é uma realidade na vida dos fiéis (Rm. 7:15-25). Em Tg. 3:10:11 lê-se: “De uma só boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas coisas sejam assim. Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso?” (negrito acrescentado); nestes versículos “amargoso” está em paralelismo ligado à “maldição”, termos que representam os pecados cometidos pela boca no capítulo 3 de Tiago e que mostram a tirania do pecado mesmo no arraial cristão (uns cometem estes pecados, outros de natureza diferente, mostrando que o pecado ainda que um rei destronado [Rm. 6:12-14] atua nos servos de Deus. E isto longe de ser uma declaração de rendição é um brado à resistência). Esta exclusão ocorrerá por ocasião da vida de Cristo, quando tudo que é corruptível será transformado em incorruptível (I Co. 15:51-54), Ellen White corrobora isto: “À medida que temos mais clara visão da imaculada e infinita pureza de Cristo, sentiremos como Daniel, quando contemplou a glória do Senhor e disse ‘minha beleza tornou-se em mim corrupção’. Não podemos dizer ‘eu sou sem pecado’, até que este vil corpo seja mudado e modelado como Seu glorioso corpo. Mas se constantemente buscamos seguir a Jesus, pertence-nos a abençoada esperança de permanecer diante do trono de Deus sem mácula ou ruga, completos em Cristo, revestidos de Sua justiça e perfeição” - Signs of the Times, 23/03/1888. (Grifo acrescentado). As Ervas apontavam a libertação plena do amargor do cativeiro egípcio para os israelitas e para os cristãos a libertação plena do cativeiro do pecado e de suas conseqüências, e isto o salvo só desfrutará a partir da volta de Jesus, então as ervas amargas são um símbolo de glorificação.
Depois deste arrazoado pode-se concluir que a plenitude da salvação é apresentada nos símbolos pascais, porém além destes aparece também na cerimônia da Santa Ceia, e esta demonstração será analisada agora:
A Cerimônia da Santa Ceia e a Salvação[10]
Um detalhe interessante sobre esta análise da ceia do Senhor é que a simbologia além de atingir seus emblemas é um pouco mais abrangente envolvendo a própria cerimônia em si, e este pormenor será mais bem analisado na constatação da verdade que a Santa ceia aponta para a glorificação, ou consumação escatológica da salvação.
I – Alimentos da Ceia – Mostram a Justificação
A Santa Ceia, à semelhança da Páscoa, foi instituída também com o propósito de relembrar a salvação de um cativeiro, só que imposto por um tirano pior que Faraó – o pecado. Nesta comemoração entram em foco o pão e o vinho sem fermento, como símbolos do corpo e sangue de Jesus – o “... cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” Jo. 1:29.
Jesus relacionou o pão com o seu corpo e o vinho com o seu sangue, Ele já havia dito algo parecido antes em João 6, onde apresenta a ingestão de seu sangue e carne como condição para a vida eterna (João 6:18, 53-56; neste capítulo pode-se perceber que esse “comer” é internalizar Cristo e Sua mensagem[11], algo chamado aqui [em Jo. 6] de “vir a mim” [v. 35], “crer” [ou “crer em mim” vv. 35, 40, 47]). Ele é chamado de “pão do céu” (Jo. 6:48) o qual, se deglutido, trará vida eterna. No capítulo 6 do evangelho joanino Jesus fala da realidade da salvação através da ingestão de sua carne e sangue que significam crer nEle e em Sua mensagem; e no episódio da santa ceia a ingestão do pão e vinho relembram a salvação efetuada na cruz e que os méritos de Cristo estão disponíveis a todo o que quiser recebe-los.
O pão e o vinho apontam para o sacrifício de Cristo em nosso lugar, Ele mesmo disse isto: “Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo.A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados” (Mt. 26:26-28). Seu corpo foi quebrado e moído na cruz do calvário cumprindo assim a profecia de Is. 53:4-6, também o v. 8 u.p. “...por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido”; esta predição de Isaías mostra o a substituição (ver além dos supracitados, o v. 12 “Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu” – grifo acrescentado) e o resultado é justificação – v. 11 “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si.” (grifo acrescentado)
O sangue de Cristo nos limpa, purifica e justifica de todo pecado (Ef. 1:7; Rm. 5:9; I Jo. 1:7; Ap. 1:5). Nesta cerimônia, por hora analisada, os alimentos sem fermento apontam para Jesus Cristo e Sua morte vicária, e o resultado deste sacrifício que foi salvação e libertação do pecado –justificação e esta alcançada pelos pecadores através da fé.
II. O Lava-pés - Mostra a Santificação
Quando da instituição deste rito Jesus ao querer lavar os pés de Pedro encontrou resistência por parte deste (Jo. 13:6-8), mas explicou que se não os lavasse o discípulo não teria parte com Ele (v. 8); então Pedro pediu que Cristo banhasse o restante do corpo (v. 9), só que O Senhor declarou que ele e os outros já estavam limpos, necessitando apenas de um complemento (v. 10).
Desta história pode-se constatar que já havia um processo de limpeza original na vida dos discípulos; assim confirma Ellen White: “Cristo está falando ainda da mais alta purificação, ilustrada pela menor. Aquele que viera do banho, estava limpo, mas os pés calçados de sandálias logo se encheram de pó, e necessitavam novamente de ser lavados. Assim Pedro e seus irmãos tinham sido lavados na grande fonte aberta para o pecado e a impureza. Cristo os reconhecia como Seus. Mas a tentação os levara ao mal, e necessitavam ainda de Sua graça purificadora. Quando Jesus Se cingira com a toalha para lhes lavar o pó dos pés, desejava, por aquele mesmo ato, lavar-lhes do coração a discórdia, o ciúme e o orgulho.”[12] (grifo acrescentado).
Porém eles, como na citação supracitada, necessitavam vencer outros pecados: “a discórdia, o ciúme e o orgulho”, assim também acontece conosco: “Como Pedro e seus irmãos, também nós fomos lavados no sangue de Cristo; todavia muitas vezes, pelo contato com o mal, a pureza do coração é maculada. Devemos chegar a Cristo em busca de Sua purificadora graça.”[13]
A Cerimônia da humildade nesta moldura maior do plano e plenitude da salvação ensina que: 1) Os que aceitam a Cristo encontram purificação para suas vidas de pecado; 2) que depois de estarem limpos ainda caem em pecados; 3) que necessitam então de purificação constante. Esta purificação é simbolizada pelas águas desta cerimônia; e isto tudo é um a figura que mostra a santificação, ou seja, a constante aproximação de Cristo e Vitória contra o pecado nas vidas daqueles que fizeram um concerto com Deus de segui-Lo.
III. A Cerimônia da Santa Ceia - Mostra a Glorificação
Jesus ensinou que este rito apontava a Grande ceia dos salvos, na qual Ele vai participar e beber o vinho novo e comer do alimento desta grande festa (Mt. 26: 29; Mc. 14:25; Lc. 22:16-18) e isto, quando Ele retornar e livrar este mundo de uma vez por todas da escravidão do pecado, há relatos paralelos desta grande ceia (A ceia das bodas do Cordeiro) em Mt. 22:1-14 e Ap. 19:1-9.
White assevera: “A santa ceia aponta à segunda vinda de Cristo. Foi destinada a conservar viva essa esperança na mente dos discípulos. Sempre que se reuniam para comemorar Sua morte, contavam como Ele, "tomando o cálice, e dando graças, deu-lhes, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o Meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide até aquele dia em que o beba de novo convosco no reino de Meu Pai". Mat. 26:27-29. Nas tribulações, encontravam conforto na esperança da volta de seu Senhor. Indizivelmente precioso era para eles o pensamento: "Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha." I Cor. 11:26.”[14]
A Ceia instituída por Jesus mostra que um dia os salvos desfrutarão de um grande banquete, no qual se celebrará a vitória final sobre o mal, sobre o pecado e todas as mazelas que ele trouxe à família humana, enfim a Santa Ceia aponta pra a glorificação.
CONCLUSÃO
Diante do presente estudo conclui-se que Deus apresenta através destas cerimônias irmãs[15] a plenitude da salvação, e é natural encontrar estas nuanças nas duas já que uma substituiu a outra[16]. Tanto a Páscoa quanto a Santa Ceia revelam através de seus elementos constituintes, e/ou do próprio rito em si[17] a Justificação, Santificação e Glorificação.
E para os cristãos hodiernos este fato aponta que eles devem estar mais e mais perto de Cristo, tendo já obtido a sua salvação e desenvolvendo-a[18]um dia eles alcançarão a consumação escatológica desta realidade (é a tensão teológica do “já” e “ainda não”); até lá devem seguir a orientação de Cristo de vigiar (Mt. 24:42-51), pois não sabem em que dia virá o Seu Senhor.
[1] Hans K. LaRondelle, Doutrina da Salvação, p. 52 em Biblioteca Teológica, Vol. I, 1 Cd-Rom
[2]Nilton Bonder, Pessach – um manual (Rio de Janeiro: Imago, 1991), 18,138.
[3]Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997 ), 278.
[4] Em I Jo. 1:7 o verbo “purificar” tem o sentido de purificação continuada de pecados, já que está no presente do indicativo ativo como mostram Fritz e Cleon: “os versos sugerem que Deus faz mais que perdoar; Ele limpa a mancha deixada pelo pecado e o tempo presente mostra que esse é um processo contínuo”. Fritz Rienecker, Cleon Rogers, Chave lingüística do novo testamento grego, (São Paulo: Vida Nova, 2000), 584.
[5] R.N. Champlim, J.M. Bentes, “Redenção”, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia (São Paulo: Candeia, 1995), 5: 580. O termo grego para “redenção” é lu,tron (lytron e seus derivados), e significa: “Preço de soltura”, “resgate”, e “preço do resgate”. Colin Brown, “Redenção”, Dicionário internacional de teologia do novo testamento eds. Lothan Coenen, Colin Brown ( São Paulo: Vida Nova, 2000),2:1986.
[6]Champlim, “Pães Asmos”, ATI, 7: 4942.
[7] Referindo-se ao pão sem fermento Albert Barnes diz:“Por causa da partida precipitada, não houve nenhum tempo para que a fermentação ocorresse: mas o significado discernido por Paulo, 1 Coríntios 5:7,8, e reconhecido pela Igreja em todas as eras, estava seguramente incluído, entretanto não expressamente declarado na instituição original. Compare as palavras de nosso Deus, Mateus 16:6,12, sobre o simbolismo da levedura.” Albert Barnes, “And unleavened bread” [Ex 12:8], Barnes’Notes on the Bible em The MasterChristian Library (Rio,WI: Ages Software, 2000) 2:42,43; 1 Cd-Rom. E Keil e Delitzsch também falando que o pão da páscoa não tinha fermento, pois este “era um símbolo natural de corrupção moral, e, portanto foi excluído dos sacrifícios como corrompendo (Levítico 2:11).” C. F. Keil; F. Delitzsch, Commentary on The Old Testament em The MasterChristian Library (Rio,WI: Ages Software, 2000), 1:482; 1 Cd-Rom.
[8] White, O Desejado de todas as nações (DTN), (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000), 653.
[9] R. N. Champlim, “Ervas Amargas”, Antigo Testamento interpretado (ATI), 7 vols., (São Paulo: Candeia, 2000), 6:4236.
[10] Para fins didáticos e explicativos neste artigo a designação “Cerimônia da Santa Ceia” inclui a cerimônia que a precede – a da “humildade” ou “ Lava-pés”.
[11] “Comer a carne e beber o sangue de Cristo é recebê-Lo como Salvador pessoal, crendo que Ele perdoa nossos pecados, e nEle estamos completos. É contemplando o Seu amor, detendo-nos sobre ele, sorvendo-o, que nos havemos de tornar participantes de Sua natureza. O que a comida é para o corpo, deve ser Cristo para a alma. O alimento não nos aproveita se o não ingerimos; a menos que se torne parte de nosso corpo. Da mesma maneira Cristo fica sem valor para nós, se O não conhecemos como Salvador pessoal. Um conhecimento teórico não nos fará bem nenhum. Precisamos alimentar-nos dEle, recebê-Lo no coração, de modo que Sua vida se torne nossa vida. Seu amor, Sua graça, devem ser assimilados.” White, DTN, 389.
[12] White, DTN, 646.
[13] Idem
[14] Ibid., 659. Hoff também concorda e diz: “A santa ceia é algo parecido com a páscoa e a substitui no cristianismo. De igual maneira, esta olha em duas direções: atrás, para a cruz, e adiante, para a segunda vinda (I Coríntios 11:26).” Paul Hoff, O Pentateuco, (São Paulo: Vida, 9ª impressão, 1999), 119.
[15] “A páscoa fora instituída para comemorar a libertação de Israel da servidão egípcia. Deus ordenara que, de ano em ano, quando os filhos perguntassem a significação desta ordenança, a história desse acontecimento fosse repetida. Assim o maravilhoso livramento se conservaria vivo na memória de todos. A ordenança da ceia do Senhor foi dada para comemorar a grande libertação operada em resultado da morte de Cristo. Até que Ele venha a segunda vez em poder e glória, há de ser celebrada esta ordenança. É o meio pelo qual Sua grande obra em nosso favor deve ser conservada viva em nossa memória.” White, DTN, 652, 653.
[16] “Cristo Se achava no ponto de transição entre dois sistemas e suas duas grandes festas. Ele, o imaculado Cordeiro de Deus, estava para Se apresentar como oferta pelo pecado, e queria assim levar a termo o sistema de símbolos e cerimônias que por quatro mil anos apontara à Sua morte. Ao comer a páscoa com Seus discípulos, instituiu em seu lugar o serviço que havia de comemorar Seu grande sacrifício. Passaria para sempre a festa nacional dos judeus. O serviço que Cristo estabeleceu devia ser observado por Seus seguidores em todas as terras e por todos os séculos.” Ibid., 652.
[17] Relembrando que aqui o rito todo (falando acerca da Comunhão) envolve o lava-pés.
[18] Embora pareça um paradoxo esta declaração, ela tem apoio bíblico, já que o Livro Sagrado dos cristãos aponta a certeza da salvação para o que crê (Jo.3:16; At. 16:30,31; Ef. 2:5-10; I Jo. 5:12,13), mas também fala do crescimento nesta salvação, eliminação de males que ainda existem na vida do crente, em outras palavras: santificação (I Co. 6:19,20; Cl. 3:1,3,5,9 e 10) e esta é uma etapa progressiva “... crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo....” II Pd. 3:18. (o termo “crescei” está no imperativo presente e sua aplicação indica ação durativa[sobre o verbo no modo imperativo presente ver Lourenço S. Rega, Noções do grego bíblico, {São Paulo: Vida Nova, reimpressão da 4ª edição, 1999}, 136], que no caso teria o sentido de “crescei sempre”, ou “crescei continuamente”)
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