10/12/2012


UM ROTEIRO PARA PREPARAR SERMÕES


Dwight E. Stevenson
Traduzido e adaptado de Elder’s Digest, vol. 9, Num. I, jan-mar/2003
Por SALT/IAENE – Disciplina de Pregação Bíblica II


Esclarecimento

Este é um guia para auxiliar pregadores a preparar sermões de forma criativa. Não é um padrão inflexível e nem é uma “muleta”. Ao contrário, tem o propósito de ser um roteiro que indique o melhor caminho homilético e convidar pregadores a seguir a estrada de sua própria liberdade e poder.

Um roteiro para sermões

Um sermão é a arte da homilética na forma de referência pronta altamente concentrada.  Este roteiro é um esforço para colocar à disposição de jovens pregadores os melhores princípios e refrescar a memória de pregadores experientes sobre os inexplorados domínios da preparação de sermões. Pretende fazer tudo isso de tal forma que possa ser estendido sobre a mesa de estudos como um “mapa rodoviário”.

A utilidade desse mapa-roteiro dependerá do grau de seriedade com a qual o seu usuário dedica dias e horas em cada uma das duas tabelas seguintes: “Preparando o próximo sermão passo a passo” (tabela A) e “Preparação de longo alcance passo a passo” (tabela B).

Estamos confiantes de que qualquer pessoa que se esforce para seguir este roteiro semanalmente descobrirá que está preparando e pregando melhores sermões.

Antes de por em prática os planos “passo a passo”  leia o roteiro completo do princípio ao fim. A princípio adote um plano provisório; mais tarde você pode ajustá-lo conforme sua experiência, até você descobrir seu ritmo e programa individual.

 

Tabela A

PREPARANDO O PRÓXIMO SERMÃO PASSO A PASSO

             I.      Escolha a idéia.

·         Verifique na pasta de sermões idéias que você colecionou. Selecione aquela que parece mais “viva”. (veja n. 15)

·         Ou fixe-se numa “inspiração” recente que pareça oportuna para ser pregada.

·         Faça essa escolha o mais cedo possível na semana, não após terça ao meio-dia, e de preferência até segunda à tarde.

·         Abandonando todas as outras idéias, firme-se na escolhida durante a semana. Não divida sua atenção “namorando” outras  idéias.

·         Escreva a idéia no topo da folha de papel em branco – sua folha de trabalho.

          II.      Comece “meditando” sobre ela.

·         A meditação – “espera criativa” ou “fermentação”. Esta é conhecida e usada por todos os artistas, músicos e escritores criativos para estimular a mente.

·         Usar uma quantidade de períodos curtos de concentração por um longo período de tempo para agitar as capacidades inconscientes para atividade criativa.

·         Separe tempo. Comece cedo na semana, não tão tarde como terça ao meio-dia. Medite no tema cada dia. Meia hora diária é melhor do que quatro horas no final da semana.

·         Medite com uma caneta e papel à mão. Anote imediatamente todos o pensamentos usando palavras e frases chaves. Conserve estas folhas com anotações de  “associação livre” até que o sermão esteja pronto.

·         Deixe o sermão ser o produto de seu próprio pensamento amadurecido. Evite correr para os livros agora. Este não é o tempo para leitura, mas para criar.

·         Quando for o caso, deixe a livre associação sugerir a organização do sermão. Nunca tente forçar a forma muito cedo na semana.

·         Você pode ter vários sermões ao mesmo tempo durante o processo de meditação, preparando-se assim para o futuro.

       III.      Escreva a proposição e continue meditando.

·         A proposição (tese) é o sermão como um todo reduzido a uma sentença.

·         O objetivo da proposição é dar unidade ao sermão excluindo o que é irrelevante e reunindo o que é pertinente.

·         Ela está declarada ou implícita ao final da pregação do sermão. Se for declarada ela pode ser mais vantajosa na introdução. Outros bons momentos são na conclusão e na transição entre os pontos principais.

·         Deve ser escrita por extenso na folha de trabalho, no início da semana. Nunca deve ser omitida na preparação do sermão.

·         Esforce-se para que sua proposição diga exatamente o que seu sermão diz. Torne-a clara.

·         Ela deve ser útil e importante, portanto, mais específica do que geral mas não trivial.

·         Torne-a clara e interessante.

       IV.      Elabore o título e continue meditando.

  • Um bom sermão será melhor se tiver um nome adequado.
  • Evite torná-lo geral demais, técnico, muito óbvio ou sensacional.
  • Torne-o objetivo, claro, interessante e sugestivo.
  • Utilize verbos e símbolos interessantes para obter ação e realismo.
  • Prefira uma frase a uma simples palavra.
  • Declare-o em termos atuais.
  • Elabore-o por meio de tentativa e erro. Escreva as várias opções e escolha a melhor.
          V.      Decida o tipo de desenvolvimento das partes principais do sermão e continue meditando.

  • O plano é o esboço que se encontra na parte principal do corpo do sermão.
  • O propósito desse esboço é dar progressão ou movimento ao pensamento do discurso.
  • A razão para variar os tipos dos esboços de um sermão para outro é proporcionar frescor e vitalidade à mensagem do púlpito por muito tempo.
  • Busque variedade em seus esboços:

1.      Prova. “Isso é verdade porque...” Razões para manter uma determinada posição.

2.      Refutação. Razões para rejeitar uma crença ou posição.

3.      Implicação. “Se....então.” Uma idéia e suas implicações.

4.      Gema. As muitas facetas ou aplicações de uma verdade demonstrada uma após a outra.

5.      Escada. Cada novo ponto se torna a plataforma para ascender ao texto. Exemplo do sermão “Dinheiro” de John Wesley:

I.                   Ganhe tudo que você puder...
II.                Economize tudo o que você puder...
III.             Doe tudo o que você puder...

6.      Antítese. O Caminho Certo e o Caminho Errado.

7.      A busca. A pesquisa do caminho certo através do exame e rejeição de um certo número de opções propostas.

8.      Analogia. Emoldurando todo o sermão em uma ilustração. Ex. A igreja como um navio, com especial atenção para o capitão, a tripulação, a carga, o porto, etc..

9.      Dialético. Tese, antítese, síntese.

10.  Solucionando Problemas. Mova-se de um problema para sua análise e sua solução. (Outras variedades de esboços de partes principais são possíveis. Desenvolva algumas por você mesmo)

       VI.      Esboce o sermão e continue meditando.

  • Organize as parte do sermão tendo em vista uma ordem de importância ascendente.
  • Tente conseguir uma proporção igual de espaço ou tempo dedicada a cada ponto.
  • Teste a unidade dos pontos confrontando-os com a proposição. São todos eles coerentes com este sermão?
  •  Expresse seus pontos principais com estrutura paralela.
  • Procure tornar a declaração dos pontos concreta e fácil de memorizar.
  • Como norma mantenha a quantidade de pontos até cinco no máximo.
  • Ao desenvolver subpontos não trate as ilustrações como pontos. Use um símbolo à parte para elas.
  • Não force para concluir o esboço muito cedo na semana. Normalmente ele vai aparecer por volta da quinta ou sexta-feira.
  • Antes de escrever o sermão tenha o esboço completo.
    VII.      Esboce a conclusão e revise os pontos principais.

  • Ao elaborar a conclusão considere sempre o propósito do seu sermão. O que você espera alcançar?
  • Conclua em tom positivo.
  • Leve o sermão ao seu clímax. Complemente e finalize o sermão.
  • Seja breve – não deve ser mais longa do que a décima parte de todo o sermão.
  • Busque variedade usando diferentes tipos de conclusão, ou combinando-as:
                       1.      Recapitulação e sumário.

2.      Aplicação.

3.      Desafio à ação.

  • Busque variedade através do uso de elementos diferentes: poesia, citações, estórias, interrogações. Evite uma maneira padronizada de concluir todos os sermões.
 VIII.      Esboce a introdução e revise os pontos principais.

  • Relacione todo o seu sermão com as necessidades humanas.
  • Ganhe a atenção e crie interesse, mas assegure-se de ligar esse interesse ao sermão em si. Não conte estórias apenas para entretenimento. Crie interesse não o satisfaça.
  • Esforce-se para ser breve. Torne-a curta.
  • Inicie em um nível a partir do qual você possa progredir, se iniciar do clímax  não haverá espaço para subir, apenas para descer.
  • Não apresente mais do que uma idéia.
  • Trabalhe de forma especial nessa primeira frase da introdução. Torne-a breve e interessante.
  • Inclua ocasionalmente uma declaração de sua proposição (tese) e do ponto principal.
  • Procure variar nos tipos de introdução:

1.      Faça uma declaração de impacto e a amplie.

2.      Inicie com um boa citação.

3.      Questione a validade do assunto.

4.      Desafie uma antiga verdade.

5.      Conte uma história.

6.      Leia um manchete ou uma carta.

7.      Relate uma entrevista.

8.      Faça uma declaração direta do propósito.

9.      Declare o problema.

       IX.      Escolha as ilustrações.

·         Cuide para cada sermão estar provido com ilustrações.

·         As ilustrações são as janelas do sermão, mas não inunde seu sermão com luz em demasia.

·         Torne-as “reais”. Evite estórias mórbidas e sentimentais.

·         Não as copie de livros de ilustrações.

·         Varie os tipos e fontes de ilustrações:

1.      Descrições vívidas.

2.      Metáforas e símiles.

3.      Relatos históricos, incluindo histórias bíblicas.

4.      Fatos atuais.

5.      Parábolas e alegorias.

6.      Anedotas.

7.      Diálogos.

8.      Humor e sarcasmo.

          X.      Redija o sermão todo.

·         Redija apenas após esboçar cuidadosamente.

·         Reserve um período suficientemente longo para escrever todo o sermão sem interrupção. Torne isso um hábito.

·         Nesse ponto não seja crítico do seu estilo. Crie e deixe a crítica para depois.

·         Nunca se satisfaça com o que você escreveu no primeiro rascunho. Vá além para possíveis melhoramentos.

       XI.      Reescreva para melhorar o estilo.

·         Retire palavras desnecessárias. Deixe apenas o que for importante.

·         Verifique quantos adjetivos e advérbios você pode eliminar sem enfraquecer a sentença.

·         Examine cada verbo. Há outro verbo mais exato mais ativo e mais concreto?

·         Use substantivos específicos em lugar daqueles gerais: escolas em lugar de educação, eleição em lugar de democracia, etc.

·         Elimine frases repetidas.

·         Esforce-se por variedade na extensão e no tipo de frase:

1.Declarativa simples. (afirmativa simples)

2.Composta. (Duas afirmativas)

3.Complexa. (mais de duas afirmativas na frase)

4.Imperativa. (ordem)

5.Perguntas.

  • Utilize alguns dos recursos de estilo:

1.      Frases periódicas.

2.      Frases elaboradas.

3.      Perguntas retóricas.

4.      Repetições.
    XII.      Faça um esboço de pregação para o púlpito e reescreva para melhorar o estilo (veja também n º XI).

·        Escreva frases e palavras chaves.

  • Desbaste até o esqueleto. Escreva apenas o que você necessita para auxiliar a lembrar o esboço original.
      ·        Teste se o esboço é adequado pregando-o em sua mente. Faça as revisões necessárias.

  • Se você deseja pregar sem usar anotações, memorize o esboço.Teste sua memória “rodando” todo o sermão em sua mente sem usar anotações.
 XIII.      Leia o manuscrito em voz alta três vezes.

  • Leia o manuscrito em voz alta várias vezes, o mais próximo possível da hora de pregá-lo, preferivelmente no sábado de manhã bem cedo.
  • Leia o manuscrito em voz alta, primeiro para recriar as imagens que estão por trás das palavras. Tente  saborear, cheirar, ouvir, ver e tocar naquilo a respeito do que você está falando.
  • Quando suas palavras são gerais auxilie-as com símbolos imaginativos concretos para elas. Ex.: Para “democracia”  use uma cabine de votação ou o domo do Capitólio.
  • Leia o manuscrito em voz alta a segunda vez para expressar as unidades principais do seu pensamento. Dê especial atenção aos pontos altos e às transições.
  • Leia o manuscrito em voz alta a terceira vez visualizando as pessoas às quais você vai pregar, tentando ao mesmo tempo preservar os propósitos de sua primeira e segunda leitura.
  • Deixe o manuscrito de lado uma hora antes da pregação e não pense nele até pregá-lo. Não leve o manuscrito ao púlpito.
  XIV.      Reconstrua o sermão usando apenas os pontos principais (veja n º XII)

     XV.      Memorize o esboço do sermão (XII).


Tabela B

PREPARAÇÃO DE LONGO ALCANCE PASSO A PASSO

 I – Tenha um programa semanal para estudo.

      1. Estudo da Bíblia.

      2. Leitura de livros.

      3. Pesquisa e redação de projetos especiais.

      4. Periódicos atualizados.

·         Dedique tempo regular para ler a Bíblia.

·         Sempre esteja estudando sistematicamente uma parte da Bíblia – usando comentários e dicionários.

·         Esteja sempre lendo um bom livro. Quando terminar um, comece outro.

·         Leia por áreas, ou seja, leia vários livros de uma área e organize por áreas. Esforce-se por obter alguma competência  em cada área: Teologia, Ética Social, Psicologia Pastoral, Filosofia, Ciências, Literatura, etc.

·         Leia duas revistas atuais ou mais, realmente de boa qualidade.

·         Tenha seu próprio projeto particular de pesquisa e torne-se uma autoridade no assunto.

 
II - Conheça os tipos de sermões

1. Textual. Uma passagem curta da Escritura é usada – Um versículo ou uma parte dele. Todas as divisões do sermão (partes principais) são tiradas do texto.

2. Expositivo. Um parágrafo, capítulo ou livro da Bíblia é usado como texto e todas as divisões ou partes do sermão são extraídos dali.

3. Tópico. O tópico (tema) é desenvolvido como base em si mesmo. Um texto pode ser usado como base ou ênfase mas o texto não é a origem da estrutura do sermão.

III – Tenha uma lista de materiais para estoque (cartões de índice, fichário, diário,  

caderno de folhas removíveis).


IV – Pregue sobre necessidades e problemas humanos específicos que exigem

respostas cristãs.

1. Áreas de pregação

A. Verdades cristãs sobre:

1. Deus.

2. Jesus.

3. O Espírito Santo.

4. Homem.

5. O Mal: a) pecado  b) sofrimento.

6.  Salvação.

7. A igreja.

8. O reino de Deus.

9. Oração.

10. A Bíblia.

11. Imortalidade.

B. Problemas Humanos

1.Dificuldades de personalidade que produz fracasso, inadequação, ansiedade, solidão, preocupação.

2. Ajustamentos na vida e decisões que devem ser feitas: férias, vida cristã, parceiro para a vida.

3. Estresse econômico.

4. Problemas Morais.

5. Injustiça social.

6. Ampliando interesses individuais.

7.Problemas eclesiásticos.

8. Conflitos familiares.

9. Infelicidades.

C. Necessidades humanas

1. Necessidades físicas: Alimentação, repouso, sexo.

2. Necessidades sociais: associação, amor,  solidariedade.

3. Necessidades egoístas: Dominação, autonomia, realizações, aquisições, retenção, conhecimento, atenção, destruição.
V - Reúna déias para sermões.

·         As idéias “surgem” quando você lê, estuda, conversa ou cumpre suas obrigações. Não se esforce para ter idéias. Receba-as.

·         Anote a idéia imediatamente. Não dependa da memória para lembrá-la. Poucas frases são suficientes para indicar a essência da idéia.

·         Arquive idéias escritas em uma pasta especial, fichário ou caderno. Classifique-as por ordem de importância.

·         Dê uma olhada  nessas idéias ocasionalmente adicionando algumas frases se elas ocorrerem. Você pode desejar descartar algumas idéias. Mantenha o arquivo “vivo”.
VI - Reúna ilustrações e citações.

·         Deixe-as surgir por si mesmas de sua leitura e observação.  Uma boa ilustração e citação deve “pedir para ser lembrada”.

·         Tenha sempre um pequeno caderno ou cartões para anotar e registrar a fonte. Não dependa da memória para relembrar.

·         Transfira os cartões ou as notas para algum arquivo permanente.

·         Dê uma olhada geral ocasionalmente para mantê-las familiar. Descarte aquelas que estiverem ultrapassadas.

·         Elabore seu próprio sistema de classificação ou não use nenhum.

·         Anote em cada uma a data em que foi usado no sermão. Não repita por sete anos!

·         Não assine revistas de citações e nem compre livros de ilustrações. Eles são muletas que o enfraquecem.

VII – Tenha uma bibliografia básica sobre pregação.


1.      Bradfod, Charles E. Preaching to the Times. Ministerial Association Resource Center, General Conference.

2.      Stickland, Mike. Heralds of God’s Word. Ministerial Association Resource Center, General Conference.

3.      Bresse, Foyd W. Successful Lay Preaching. Ministerial Association Resource Center, General Conference.

4.      Hunt, Marvin. So You’ve Been Asked to Speak. Ministerial Association Resource Center, General Conference.

29/11/2012


É RACIONAL CRER NA CRIAÇÃO RECENTE EM SEIS DIAS?


Antes de responder à questão de saber se é razoável ou racional acreditar em uma criação recente em seis dias, é importante definir os seus elementos fundamentais: “razoável” e “criação recente em seis dias.” Enquanto a ciência tem sido associada à “razão” e, portanto, espera-se que seja razoável, o criacionismo tem sido associado por muitos à “fé” e, portanto, parece ser incompatível com qualquer coisa “razoável”.1
Mas a fé bíblica, nesse caso a fé na criação, é “razoável”, no sentido de que não é mítica e/ou irracional, pelo contrário, apresenta histórica (a Bíblia também é um documento histórico), natural e sensível evidências para suas alegações. Embora seja verdade que a Bíblia não é um documento científico moderno da criação, ainda assim se espera que aceitemos pela fé o seu registro (Hebreus 11:3, 6). Contudo, não se espera que exerçamos fé cega ou simplista.2 Pelo contrário, a Bíblia oferece estrutura e argumentos para que a fé seja convincente acerca da veracidade cosmológica e histórica de eventos e elementos apresentados biblicamente. Leonard Brand e David Jarnes resumem as evidências judaico-cristãs para a razoabilidade das Escrituras, ao enumerar: (1) o cumprimento histórico das profecias bíblicas/previsões; (2) o apoio arqueológico para as históricas localizações bíblicas, pessoas ou acontecimentos; (3) os regulamentos mosaicos de saúde que diferem radicalmente dos do Egito, apontando para uma revelação sobrenatural. As três fontes bíblicas de evidências são experimentáveis e assim reforçam nossa visão da Bíblia como sendo razoável. Fato comprovado também em relatos das Escrituras que não são experimentáveis – característica que se deve não ao caráter pré-científico da Bíblia, mas às limitações da ciência.3

Justo Gonzalez definiu “criacionismo” como “a resposta de alguns cristãos conservadores para a teoria da evolução, que eles veem como uma ameaça para a doutrina cristã da criação... Segundo os criacionistas, a história bíblica da criação... é cientificamente defensável, e há uma diferença abissal entre a doutrina cristã da criação e a teoria científica da evolução”.4 Uma forma de criacionismo – “criacionismo recente em seis dias” – enfatiza que a vida e a organização deste planeta se originou sobrenaturalmente em seis dias, e mais recentemente (em vez de alguns milhares de milhões de anos atrás).5 Assim, ao assumir que a Terra poderia ter sido criada em um momento anterior (antes de Gênesis 1:2), evita tomar partido pelo criacionismo da Terra recém-criada, que insiste que o próprio planeta, se não todo o Universo, tem cerca de 6.000 anos de idade. Evita também defender qualquer lacuna entre Gênesis 1:1 e 1:2,6 ou a “teoria do intervalo”, que insere uma descrição especulativa do que poderia ter acontecido no intervalo entre os eventos de Gênesis 1:1 e 1:2.7
Dessa forma, é razoável considerar a criação recente em seis dias? Acreditamos que sim, por uma série de razões. As três primeiras evidências serão persuasivas principalmente para aqueles que já acreditam na Bíblia, enquanto que as outras podem ser mais pertinentes para os que ainda não acreditam.

Evidências de estudos bíblico-teológicos
1. O criacionismo recente em seis dias é razoável, da mesma forma e com a mesma intensidade em que a fé na Bíblia é razoável. É razoável acreditar no caráter histórico, não-mítico, factual do relato da criação, pois é razoável acreditar em outros relatos bíblicos, como os relatos da encarnação, ressurreição, ascensão e promessa da segunda vinda de Cristo.8

Em outras palavras, o criacionismo recente em seis dias é uma questão de fé, mas uma fé apoiada em evidências. O evolucionismo naturalista é também, em última análise, edificado em pressupostos filosóficos (como a eternidade da matéria/energia, biogênese, absoluto uniformitarianismo e naturalismo reducionista). Assim, ele também procura por evidências para comprovar a sua razoabilidade. Por conseguinte, um aspecto importante dessa discussão sobre razoabilidade diz respeito ao grau de autoridade que deve ser dado para os fundamentos do evolucionismo e criacionismo, respectivamente. São os pressupostos e/ou conclusões dos cientistas evolucionistas mais confiáveis do que as Escrituras? Brand e Jarnes, tendo descrito a relatividade das teorias científicas, por um lado, e a razoabilidade da fé na Bíblia, por outro, concluem que “se o naturalismo é falso e se Deus realmente se comunicava com os escritores da Bíblia, teríamos razões para acreditarmos que é mais digno de confiança do que as autoridades humanas”.9
2. Há uma conexão entre uma interpretação direta da descrição da criação de Gênesis e a data de criação apresentada. Richard Davidson argumenta convincentemente que o relato bíblico da criação aponta claramente para um registro literal e histórico dos eventos descritos, o que implica em um curto processo de criação abrangendo apenas seis dias de 24 horas. Ele mostra que mesmo os estudiosos histórico-críticos mais cautelosos têm insistido que o autor de Gênesis pretendeu que seus leitores compreendessem todo o processo de criação da vida na Terra durante esse período. A história da criação não apresenta qualquer sinal de linguagem alegórica ou mitológica e, portanto, não permite a interpretação de um dia para uma semana da criação.10 Também o quarto mandamento do Decálogo (Êxodo 20:8-11) supõe a criação em dias literais de 24 horas, ligando intimamente a celebração do sábado (e sua legitimidade) com a nova semana.11 Dessa maneira, qualquer tentativa de conciliar a criação com uma visão da evolução com base em uma longa história de vida na Terra, como a evolução teísta e criacionismo da velha Terra (a criação progressiva), está em desacordo com a clara intenção da Escritura.12

A extensão da história da vida na Terra, para se adequar com a evolução teísta ou com o criacionismo da velha Terra, é baseada no pressuposto de que as genealogias de Gênesis são simbólicas ou representativas. BB Warfield definiu as bases para essa abordagem, argumentando que podemos confiar em certa medida nas genealogias bíblicas que começam com Abraão, uma vez que temos informações adicionais além dessas genealogias, mas que não podemos fazê-lo com as genealogias anteriores, porque “somos dependentes inteiramente das inferências extraídas das genealogias registradas no quinto e décimo primeiro capítulos de Gênesis. E se as genealogias das Escrituras fornecerem uma base não sólida para inferências cronológicas é claro que ficamos sem os dados das Escrituras para a formação de uma estimativa da duração desses períodos”. Aplicando o estilo de genealogias de Mateus e de Lucas para as genealogias em Gênesis 5 e 11, Warfield explicou que “não há razão inerente à natureza das genealogias das Escrituras porque uma genealogia que registrou ligações... pode não representar um retrocesso efetivo de cem ou mil ou dez mil ligações”.13 Em oposição a isso, Davidson argumenta conclusivamente que as genealogias de Gênesis 5 e 11 contêm duas características especiais que fazem um esforço extra para provar o contrário, isto é, “que não existem lacunas individuais entre os patriarcas mencionados: (1) “características únicas de integração” do texto (“Um patriarca viveu X anos então, gerou um filho, depois que gerou esse filho, ele viveu mais Y anos, e gerou mais filhos e filhas, e todos os anos deste patriarca foram Z anos”) tornam “impossível argumentar que há importantes lacunas geracionais”, e (2) ao contrário de outras genealogias bíblicas que usam a forma Qal “gerou”, a forma Hiphil (yalad) é utilizada, a qual “é a especial forma causal que em outros lugares no VT refere-se à real descendência físico-direta, ou seja, o pai biológico da relação pai-filho (Gênesis 6:10; Juízes 11:1; 1 8:9 Crônicas; 14:3; 2 Crônicas 11:21; 13: 21; 24:3).”14 Portanto, essas genealogias bíblicas excluem a extensa história de vida tão necessária para aqueles que querem conciliar a Bíblia com a evolução, e representam uma ferramenta histórica razoável para posicionar um período recente de vida na Terra.

3. Uma criação recente de seis dias é coerente com os conceitos bíblico-teológicos da onipotênica divina, justiça e amor. A “desilusão” de Darwin com a noção de um Deus justo e amoroso foi baseada em sua rejeição (e aparente mal-entendido) da teodicéia clássica que atribui a situação atual do nosso planeta ao abuso da liberdade da escolha.15 Mas se Deus não é de fato apenas onipotente, mas também amoroso e justo, então é perfeitamente razoável que Ele iria criar e organizar a vida neste planeta em um processo curto, inofensivo e ordeiro, porque qualquer outra coisa, como a progressão violenta da vida durante longos períodos descritos pela teoria da evolução é repugnante para Sua natureza.
Evidências de estudos científicos

1. A razoabilidade de uma criação recente em seis dias é evidente a partir de séculos de debate entre a ciência e o cristianismo. A hipótese de uma longa história de vida na Terra surge dos conceitos uniformistas da geologia e da evolução biológica dos séculos XVIII e XIX de uma fonte comum baseada em probabilidades percebidas e seleção natural.16 Roth, porém, mostra como os recentes desenvolvimentos na ciência tem cada vez mais desafiado o uniformitarianismo a favor do catastrofismo global, observando que o ponto de partida começou com as observações de fenômenos globais como a produção de correntes de desordem produzindo deposição rápida. Ainda mais revelador é o surgimento recente das teorias que explicam a extinção dos dinossauros por meio de uma catástrofe global como resultado de um asteróide ou cometa.17 O surgimento do neocatastrofismo, que adiciona ainda mais apoio à enxurrada de modelos que explicam os depósitos geológicos em termos de evolução rápida e recente, tem dado um apoio adicional para uma criação recente.18
2. A evolução biológica ainda tem encontrado desafios significativos em seus próprios proponentes. Curiosamente, cientistas como Stephen Gould e Niles Eldredge têm promulgado o conceito de equilíbrio pontuado, a fim de explicar a falta de evidência de fósseis de transição.19 Além disso, Michael Denton, numa base puramente científica, desafiou a validade dos evolucionistas argumentando a partir da paleontologia até à biologia molecular.20
Concluindo, a teoria da evolução está longe de ser um fato provado, abrindo espaço para o relato bíblico da criação como uma alternativa razoável.21

Gheorghe Razmerita tem doutorado em Teologia pelo Instituto Adventista Internacional de Estudos Avançados nas Filipinas. É professor de Teologia e História da Igreja na Universidade Adventista da África, Nairobi, Quênia. E-mail: grazmerita@gmail.com

Este artigo foi publicado originalmente em Reflexões, um boletim informativo do Instituto de Pesquisa Bíblica. Impresso com permissão.

Referências

1. Cf. Leonard Brand e David C. Jarnes. Beginnings: Are Science and Scripture Partners in the Search for Origins? Nampa, ID: Publicadora Pacific Press Assn., 2005. p. 25, 27. Também Norman Gulley. “Basic Issues between Science and Scripture: Theological Implications of Alternative Models and the Necessary Basis for the Sabbath in Genesis 1-2” in Journal of the Adventist Theological Society, 2003, 14: 195-228, esp. 203, 204. (Hereafter JATS).

2. Ver também Norman Geisler. “Faith and Reason” in Baker Encyclopedia of Christian Apologetics. Grand Rapids, MI: Baker. p. 239-243.

3. Brand e Jarnes, p. 30-32.

4. Justo Gonzalez. Essential Theological Terms. Louisville, KY: Westminster John Knox, 2005. p. 42.

5. Ariel Roth. Origins: Linking Science and Scripture. Hagerstown, MD: Publicadora Review and Herald Assn., 1998. p. 316; Richard Davidson. “In the Beginning: How to Interpret Genesis 1” in Diálogo 6 (1994) 3:9-12.

6. James Gibson. “Issues in ‘Intermediate’ Models of Origins” in JATS 15, 2004, p. 74, 75; Roth, p. 341, 342.

7. Roth, p. 316-318, 340, 341. Eruditos adventistas continuam a debater a existência de uma “teoria do intervalo” entre Gen. 1:1 e 1:2. Marco Terreros. “What Is an Adventist? Someone Who Upholds Creation” in JATS, 1996, 7:147-149, aceita a teoria do intervalo apenas na teoria, mas tem reservas teológicas, argumentando que a teoria é imposta pela ciência e que não há necessidade de lacunas na criação de Deus. No entanto, de acordo com Richard M. Davidson. “The Biblical Account of Origins” in JATS, 2003, 14:5-10, Gen. 1:1 deve ser traduzido como uma cláusula independente, que, então, não exclui a teoria do intervalo para a qual ele se inclina, sem ser dogmático (Ibid., p. 19-25).

8. Brand e Jarnes, p. 30-32, 27.

9. Lamech Liyayo (autor do livro Ted Peters’Proleptic Theory of the Creation of Humankind in God’s Image: Critical Evaluation. Silang, Cavite, Philippines: Instituto Adventista International de Estudos Avançados, 1998) observa que Peters aceita a possibilidade de uma histórica segunda vinda de Cristo, mas rejeita como não-histórica o relato da criação de Gênesis, apesar de ambos pertencerem à mesma Escritura; ver também, Gulley, p. 213. Randall W. Younker. “Consequences of Moving Away from a Recent Six-Day Creation” in JATS 15, 2004, p. 64, 65, afirma que para os eruditos “Neoevangélicos” (que reinterpretam Gênesis em uma maneira não-literal ) “para ser coerente, eles devem também negar um histórico período patriarcal (Abraão), a Estadia (Israel no Egito), o Êxodo (Mar Vermelho), Monte Sinai (Os Dez Mandamentos – o Sábado), a Conquista (Jericó), e provavelmente a existência da Monarquia (Salomão e Davi), até mesmo a ressurreição de Cristo poderia ser negada”.

10. Davidson, p. 10-19; ver também Gerhard F. Hasel. “The ‘Days’ of Creation in Genesis 1: Literal ‘Days’ or Figurative ‘Periods’/’Epochs’ of Time?” in Origins 21, 1994, p. 5-38; Jacques Doukhan. “The Genesis Creation Story: Text, Issues, and Truth” in Origins 55, 2004, p. 12-33.

11. Ver Gulley, p. 212-216, 221-224.

12. Para uma descrição desses modelos, veja Gibson. “Issues”, p. 73-87; Roth, p. 342-344.

13. Ver B. B. Warfield. “On the Antiquity and the Unity of the Human Race” in Biblical and Theological Studies. Filadélfia: The Presbyterian & Reformed Pub., 1968. p. 240, 241.

14. Davidson, p. 26; ver também G. Hasel. “Genesis 5 and 11: Chronogenealogies in the Biblical History of Beginnings” in Origins 7, 1980, p. 23-37.

15. Ver Nigel M. de S. Cameron. Evolution and the Authority of the Bible. Exeter, U.K.: Paternoster, 1983. p. 50-63. Sobre os problemas de Darwin com o projeto, veja Charles Darwin em Asa Gray, 22 May 1860, em Francis Darwin (ed). The Life and Letters of Charles Darwin. New York: Appleton, 1905 (2:105), citado em Neil Messer. Selfish Genes and Christian Ethics; Theological and Ethical Reflections on Evolutionary Biology. Londres: SCM, 2007. p. 39.

16. Roth, p. 197, 198.

17. Ibid., p. 199, 200; ver também. L. James Gibson. “Contributions to Creation Theory from the Study of Nature” in JATS 14, 2003. p. 147; Harold G. Coffin, Robert H. Brown e R. James Gibson. Origin by Design. Hagerstown, MD: Publicadora Review and Herald. Assn., 2005. p. 394.

18. Ibid., p. 200-230; ver também, Coffin. Origin by Design. p.37-43, 72-103, 183-194.

19. The Columbia Encyclopedia (6th e.; s.v. “Gould, Stephen Jay”). Embora a ideia do equilíbrio pontuado tenha sido introduzida anteriormente, ela tornou-se altamente influente com a publicação do proeminente artigo por Niles Eldredge e Stephen Jay Gould, “Puntuated Equilibria: An Alternative to Phyletic Gradualism” (em T. J. M. Schopf (ed.). Models in Paleobiology. São Francisco: Freeman Cooper, 1972. p. 82-115, esp. 85-90), citado em 26 de agosto de 2009, http://www.blackwellpublishing.com/ridley.classictexts/eldredge.pdf. Ver também: Coffin. Origin by Design. p. 258-271.

20. Michael Denton. Evolution: A Theory in Crisis, 3d rev. ed. Bethesda, MD: Adler & Adler, 1986.
21. Ver Roth, p. 332, 333; Jonathan Wells. Icons of Evolution: Science or Myth? Washington, DC: Regnery, 2000. Coffin. Origin by Design. p. 393, 394. Bert Thompson. Creation Compromises. 2d ed. Montgomery, AL: Apologetics, 2000. p. 50-71. Citado em 25 de agosto de 2009 (Disponível em: http://www.apologeticspress.org/pdfs/e-books_pdf/cre_comp.pdf).

 

12/12/2011

O USO DE DRAMATIZAÇÕES NA IGREJA





O Antigo e o Novo Testamento estão permeados de dramatizações simbólicas.


Alberto R. Timm
 White Estate - EUA.


Especialistas na área de comunicação têm afirmado que aprendemos 83% das informações do mundo exterior através da visão; 11% através da audição; e 6% distribuídos entre o tato, o olfato e o paladar.

Isto significa que nos lembramos muito mais daquilo que vemos do que daquilo que meramente ouvimos. Se a visão é tão eficaz no processo da comunicação, deveria a Igreja Adventista do Sétimo Dia valer-se apenas de recursos auditivos na proclamação do “evangelho eterno” (Apoc. 14:6)? Até que ponto poderia esta denominação incorporar recursos visuais e dramatizações em seus serviços religiosos, sem com isso infringir princípios expostos na Bíblia e nos escritos de Ellen White?

A fim de respondermos a estas questões, consideraremos, inicialmente, alguns antecedentes do uso de dramatizações na literatura bíblica e nos escritos da Sra. White. Procuraremos, então, identificar alguns princípios básicos que poderão nos ajudar a estabelecer parâmetros seguros sobre o assunto.
No Antigo Testamento
A liturgia do Antigo Testamento centralizava-se nos rituais simbólicos, primeiro, dos altares patriarcais; depois, do tabernáculo mosaico; e, por último, do templo de Jerusalém. Esses serviços ministrados por sacerdotes (cf. Êxo. 28 e 29; Lev. 8), constituíram uma prefiguração dramática da salvação que haveria de se concretizar através do sacrifício e do sacerdócio de Cristo. Animais representavam a Cristo; a imolação desses animais simbolizava a morte de Cristo; e o sangue deles prefigurava o sangue de

Cristo. Também as festas de Israel eram marcadas por inúmeras dramatizações (ver Êxo. 12:1-27; Lev. 16 e 23). Ellen White denomina todo esse sistema centralizado no santuário de “o evangelho em figura”. [1]



Outro ato religioso dramático do Antigo testamento era a cerimônia da circuncisão. Esse ato foi ordenado por Deus como um símbolo exterior do concerto entre Ele e Seu povo.

Em números 21:4-9, Deus ordenou que Moisés preparassem e levantasse uma “serpente de bronze”, como um símbolo de Cristo. Todos aqueles que olhassem com fé para aquela serpente, viveriam.

Dramatizações são encontradas também nos livros proféticos do Antigo Testamento. O próprio Deus usou recursos pictóricos para descrever realidades sócio-políticas e religiosas nas visões proféticas registradas em tais livros, como Ezequiel, Daniel e Zacarias. Por exemplo, no capítulo 2 do livro de Daniel, a Segunda Vinda de Cristo é representada pela grande pedra que feriu os pés da estátua. Já no capítulo 1 de Oséias, encontramos deuses ordenando que o próprio profeta (Oséias) dramatizasse a apostasia espiritual de Israel, casando-se com uma prostituta.

Portanto, o uso de recursos visuais (incluindo dramatizações) permeava o culto do Antigo testamento. Tais recursos eram parte do serviço do santuário, da cerimônia da circuncisão e dos ensinos proféticos.

Mas o emprego de tais recursos visuais não se limita apenas ao Antigo Testamento.
No Novo Testamento
Os quatro evangelhos apresentam inúmeras ocasiões em que Cristo usou ilustrações vívidas da natureza e da vida diária para ensinar lições espirituais. Ele não apenas se valeu do recurso didático das parábolas, mas até comparou-Se a Si mesmo com tais figuras como a água (João 4:10), o pão (6:41 e 48), a luz (8:12), a porta (10:9), o pastor (10:14) e a videira (15:1-5).
A própria cerimônia do Batismo é uma dramatização simbólica, instituída por Cristo para marcar o início de uma vida de consagração a Deus. Cristo não apenas submeteu-Se a essa cerimônia (Mat. 3:13-17), mas também ordenou que ela fosse ministrada a todos quantos aceitassem o evangelho (28:18-20).


Até mesmo Sua morte dramática sobre a cruz tinha propósitos didáticos. Ellen White declara que “a cruz é uma revelação, aos nossos sentidos embotados, da dor que o pecado, desde o seu início, acarretou ao coração de Deus”. [2] Ela acrescenta que “o Calvário aí está como um monumento de estupenda sacrifício
exigindo para expiar a transgressão da lei divina”. [3]
     

Esse evento dramático ocorreu sobre uma cruz com o objetivo de tocar os “nossos sentidosembotados”.[4] Ele é relembrado simbolicamente através da cerimônia da Santa Ceia (ver Mat. 26 :17-30; João 13:1-20), que é, por sua vez, uma dramatização litúrgica ordenada por Cristo para ser repetida periodicamente por Seus seguidores (cf. João 13:13-17; I Cor. 11:23-26).



À semelhança de alguns livros proféticos do Antigo Testamento, o conteúdo do Apocalipse de João é caracterizado por dramatizações simbólicas, que descrevem pictoricamente o desenvolvimento do plano da salvação no contexto do grande conflito entre as forças do bem e os poderes do mal.

Por conseguinte, o Antigo e o Novo Testamento estão permeados de dramatizações simbólicas. Especialmente o Batismo e a Santa Ceia são dramatizações do plano de salvação, instituídas pelo próprio Cristo como parte da liturgia da igreja.


Nos Escritos de Ellen White [5]

Analisando-se os escritos de Ellen White, percebe-se, por um lado, que ela: (1) endossa reiteradas vezes as dramatizações litúrgicas do Antigo Testamento (o cerimonial do santuário, etc.); (2) enaltece as dramatizações litúrgicas do Novo Testamento (o Batismo, o Lava pés, a Santa Ceia, etc.); (3) engrandece o ritual sacerdotal de Cristo no Céu; (4) não criticou a dramatização a que assistiu na Escola Sabatina de Battle Creek, em 1888 [6], (5) não condenou a encenação do Natal de 1888, em Battle Creek, mas simplesmente expressou sua aprovação aos pontos positivos dos programa e sua desaprovação aos pontos negativos [7], e (6) não condenou o uso das bestas de Daniel e do Apocalipse como ilustrações evangelísticas.


Por outro lado, várias citações de Ellen White desaprovam o uso de qualquer tipo de exibicionismo teatral [8]. Estariam essas citações condenadas indistintamente todo tipo de dramatização? Eu creio que não, pois, se assim fosse, Teríamos que eliminar até mesmo o Batismo e a Santa Ceia de nossas igreja .

 É interessante notarmos que as próprias citações de Ellen White que desaprovam o uso de exibições teatrais, identificam também as características negativas básicas que a levaram a se opor a tais exibições. Dentre essas características destacamos as seguintes: (1) afastam de Deus; (2) levam a perder de vista os interesses eternos; (3) alimentam o orgulho; (4) excitam a paixão; (5) desaprovam o vício; (6) estimulam o sensualismo; e (7) elevam a imaginação. [9]




Na Igreja Adventista

Grupos de dramatização têm participado freqüentemente em vários programas de TV mantidos pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, ao redor do mundo. Elencos especiais de dramatização foram necessários também para a produção de filmes e/ou videocassetes Um em Vinte Mil (EUA), O Grande Conflito (Argentina), Heróis da Fé (Austrália), O Barquinho Azul (Brasil) e muitos outros. Evangelistas adventistas usam em número significativo de filme em suas séries de conferências públicas.


Dramatizações fazem parte ainda da vida da grande maioria dos internatos mantidos pela denominação. Elas são usadas também em nível de igrejas locais, tanto em programas alusivos ao Dia das Mães e Natal, como nos departamentos infantis da Escola Sabatina.


Várias dessas dramatizações têm elevado espiritualmente tanto os apresentadores como os que a ela assistem. Existem, no entanto, aqueles que pensam que os fins justificam os meios e que as boas intenções são o único critério determinante para a aceitação de um determinado programa. Mas se restringíssemos os critérios apenas ao nível das intenções, certamente incorreríamos no grave erro de abrirmos as portas a todo e qualquer tipo de programação “culturalmente” aceitável.
Critérios Básicos


Cuidadosa consideração deve ser dada, não apenas às intenções, mas também à própria natureza do programa, à escolha dos participantes, bem como ao tempo e local adequados tanto para o ensaio quanto para a apresentação da cena.


As dramatizações devem: (1) evitar o elemento jocoso e vulgar; (2) evitar o uso de fantoches (animais e árvores que falam, etc.); (3) ser bíblica e historicamente legais aos fatos, como estes realmente ocorrem; e acima de tudo, (4) exaltar a Deus e a Sua palavra (e não os apresentadores da programação).

Já os apresentadores devem ser pessoas cuja vida espiritual e conduta estejam em plena conformidade com os princípios adventistas, e que estejam dispostos a acatar as orientações da liderança da congregação local e das organizações superiores da denominação. Prudente seria que todos os participantes de um elenco de dramatização fossem escolhidos com base nas diretrizes sugeridas pelo Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia para a seleção dos "membros do coro da igreja". [10]

A liderança da igreja, por sua vez, é responsável por prover orientações adequadas aos apresentadores das dramatizações. A ela compete exercer uma função equilibradora, para que as programações sejam um meio (e não um fim) de melhor glorificar a Deus e de mais efetivamente comunicar o evangelho ao mundo. Jamais deve permitir que dramatizações venham obliterar a centralidade da pregação da palavra na liturgia adventista.



Portanto, dramatizações permeiam liturgia tanto no Antigo como no novo Testamento, Ellen White, por sua vez, não condena todo o tipo de dramatização, mas apenas as exibições teatrais que afastam de Deus, levam a perder de vista os interesses eternos, alimentam o orgulho, excitam a paixão, glorificam o vício, estimulam o sensualismo e depravam a imaginação.

Se alegarmos que toda e qualquer dramatização é inapropriada, teremos conseqüentemente, de suspender: (1) o uso de filmes, que são o produto de dramatizações; (2) a maior parte das programações dos departamentos infantis na Escola Sabatina (colocar coroas na cabeça das crianças, cenas do céu, etc.); (3) todas as “cantatas” e grande parte das apresentações musicais de nossas igrejas; e, até mesmo
(4) a celebração das cerimônias do Batismo e da Santa Ceia.

Por outro lado, devemos ser cuidadosos tanto na avaliação da natureza do programa, como na escolha dos apresentadores e do tempo e do local dos ensaios e da apresentação. O uso adequado de dramatizações implica não meramente agirmos em conformidade como nossa própria consciência (sendo ela santificada), mas também com base nos princípios bíblicos e dos escritos de Ellen White. Toda cena deve glorificar a Deus e não aos apresentadores.


Referências:
1 . Fundamentos da Educação Cristã, pág. 238.
2. Educação, pág. 263
3. Caminho a Cristo, pág. 33.
4. Educação, pág. 263
5. Para um estudo mais detido das declarações de EllenWhite sobre dramatizações, ver Arthur L.White,  “Representações Dramáticas em Instituições Adventistas” (documento disponível no Centro de Pesquisas Ellen White, Instituto Adventista de Ensino – Campus Central, Engenheiro Coelho, SP). Tais declarações podem ser mais bem compreendidas através da leitura do artigo intitulado “Divertindo as Massas”, de Benjamim McArthur, em: Gary Land, ed. , The World of Ellen G. White (Washington, DC: Review and Herald, 1987), págs. 177-191.
 6. A. L. White, “Representações Dramáticas em Instituições Adventistas”, pág. 1.
7. Idem, págs. 5 e 6.
8. As principais citações de Ellen White nas quais ela expressa sua desaprovação ao uso de exibições teatrais,
encontram-se no livro  Evangelismo, pág. 136-1409. Ver A. L.White, “Representações Dramáticas em Instituições Adventistas”.
10. Ver Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia, 8ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1992), pág. 111.