ESTUDOS EM DANIEL - I
Material do Pr. João Antônio R. Alves
INTERPRETAÇÃO DA
PROFECIA
Entre os intérpretes das profecias de Daniel há considerável
desacordo sobre como a tarefa de interpretar a profecia deveria ser
realizada. Existem três escolas básicas
de pensamento:
1. Preterista
– coloca o cumprimento de todas as profecias de Daniel no passado, finalizando
com o segundo século a.C. Neste caso,
nenhuma das profecias se estenderia até Roma ou além.
2. Futurista
– considera muito da seção profética como ainda futura e não cumprida. Os intérpretes futuristas começam no passado,
começando as profecias de Daniel com a seqüência histórica de Babilônia,
Medo-Pérsia, Grécia e Roma. Mas então
eles saltam toda a era cristã e colocam o principal cumprimento da maioria
destas profecias nos últimos sete anos da história terrestre.
3. Historicista
– interpreta as profecias de Daniel como sendo cumpridas através da história,
estendendo-se desde o passado, passando pelo presente e chegando ao
futuro. Por causa do fluxo da história
que está envolvido nesta visão, é algumas vezes chamado a visão
“contínuo-histórica”.
Exemplos:
REINOS
Escola de
interpretação
|
Ouro/leão
|
Prata/urso
|
Bronze/leopardo
|
Ferro/animal
terrível / espantoso
|
Preterista
|
Babilônia
|
Média
|
Pérsia
|
Grécia
|
Futurista
|
Babilônia
|
Medo-Pérsia
|
Grécia
|
Roma
|
Historicista
|
Babilônia
|
Medo-Pérsia
|
Grécia
|
Roma
|
PONTA PEQUENA
Escola de
Interpretação
|
|
Preterista
|
Antíoco
|
Futurista
|
Anticristo pessoal
|
Historicista
|
Roma – fase
religiosa
|
TEMPO PROFÉTICO
Escola de
Interpretação
|
|
Preterista
|
Literal
|
Futurista
|
Literal
|
Historicista
|
Simbólico
|
Shea, 2:41 - A Ponta Pequena é melhor identificada com
Roma. Se esta identificação é correta,
então os tempos proféticos associados com as atividades do chifre pequeno
também deveriam se encaixar com os períodos de tempo cobertos por Roma. A Roma imperial durou um número de séculos, e
a Roma papal continuou através da Idade Média.
Tomado em termos de tempo literal, os períodos proféticos de Daniel não
cobririam mesmo uma pequena porção daquela história. Esta correlação indica que os períodos proféticos
deveriam ser interpretados como tempo simbólico em harmonia com seus contextos.
Os
comentaristas preteristas e futuristas, no entanto, sustentam que estes
períodos de tempo deveriam ser tomados como tempo literal – com a exceção de
algumas referências em Daniel 9. Os
preteristas, naturalmente, situam o tempo literal no passado, enquanto os
futuristas o situam no futuro. Os
historicistas, por outro lado, interpretam estes períodos proféticos como tempo
simbólico, cumprido... através do curso de séculos de história.
Que evidências há de que estes tempos proféticos deveriam
ser entendidos simbolicamente? E se eles
devem ser assim interpretados, que regras de interpretação deveriam ser
seguidas?
A primeira
característica destes períodos de tempo que apontam para sua natureza simbólica
é seu contexto simbólico. Por
exemplo, as 2300 tardes e manhãs são encontradas na visão de Daniel 8 em um
contexto contendo vários outros símbolos tais como um carneiro, um bode, quatro
chifres e um chifre pequeno.
Em Daniel
7:21, o profeta diz, “Eu olhava e este chifre [o chifre pequeno] fazia guerra
contra os santos, e prevalecia contra eles”.
Esta é claramente uma imagem simbólica.
O v. 25 indica por quanto tempo continuaria esta perseguição do povo de
Deus [“um tempo, tempos e metade de um tempo”].
Dado que todo o contexto do que é dito sobre este poder perseguidor é
simbólico, parece lógico que os períodos de tempo referidos semelhantemente
seriam simbólicos.
O fato de
que estes períodos de tempo proféticos deveriam ser entendidos simbolicamente
também é indicado pela natureza
simbólica das unidades em que eles são dados. Daniel 8:14 usa “tardes e manhãs” que não é
uma unidade normal para se expressar tempo no AT. Similarmente, o “tempo, tempos e metade de um
tempo” de Daniel 7:25; 12:7 não é a palavra para “anos”. Estes tempos devem ser interpretados como
anos por meio de 4:16, 23, 25, 32 juntamente com Apocalipse 12:6, 14;
13:5. Novamente, no capítulo 9, a
unidade de tempo é “semanas” (vv. 24-27), muito embora, como o conteúdo da
profecia revela, estas não sejam semanas normais de sete dias de vinte e quatro
horas.
Outro ponto
a notar é que os períodos de tempo são expressos em quantidades que enfatizam sua natureza simbólica. Um hebreu
normalmente não dataria algum evento como estando 2300 dias no futuro. Ele diria seis anos e quatro meses. Tampouco dataria alguma coisa referindo-se a
setenta semanas. Em vez disto, ele diria
um ano, quatro meses e meio. Os 1260
dias, os 1290 dias, e os 1335 dias teriam sido comumente referidos como três
anos e meio, três anos e sete meses, ou três anos e oito meses e meio.
Todas estas
considerações indicam que não estamos lidando com tempo literal nas porções
proféticas de Daniel, mas com tempo simbólico.
Se isto é
assim, por qual padrão deveríamos avaliar estes tempos simbólicos em termos de
tempo histórico real? Isto nos leva à
regra profética dia-por-um-ano. É encontrada primeiramente em Números 14:34 e
Ezequiel 4:6 – duas profecias clássicas, não apocalípticas. Números 14:34 estabelece uma regra para ser
utilizada como uma base para o futuro juízo de Israel. Os quarenta dias gastos em espiar a terra...
proveram uma escala para os quarenta anos durante os quais os israelitas
vagueariam pelo deserto.
Em Ezequiel
4:6, o profeta deveria simbolizar os anos passados de iniquidade em Israel e
Judá por permanecer sobre o seu lado por um correspondente número de dias sobre
a base da regra ano-por-un-dia. Assim
Ezequiel, que profetizou ao mesmo tempo que Daniel, conhecia e usava esta regra
concernente ao tempo profético.
Há também
evidência no próprio livro de Daniel de que esta regra dia-por-um-ano deveria
ser utilizada em suas profecias temporais.
Daniel 9:24-27 se refere a um período profético de setenta semanas. Por causa de todos os eventos que deveriam
ocorrer dentro destas setenta semanas, está claro que elas devem ser entendidas
simbolicamente.
Dentro destas setenta semanas Judá deveria retornar para a
sua própria terra e reconstruir Jerusalém e o templo. Então, algum tempo depois dentro deste
período de tempo, o Messias viria e ministraria ao povo, mas seria cortado, ou
morto. Obviamente, tudo isto não poderia
ter sido cumprido em um ano e meio literal.
Estas “semanas” devem ser simbólicas.
O teste
pragmático da história mostra que a unidade simbólica de uma semana é
equivalente a sete anos literais – um dia por um ano. Usando este padrão, os eventos desta profecia
se cumprem corretamente. O período
deveria começar com a emissão “do decreto para restaurar e reedificar
Jerusalém” (v. 25) e findar com o Messias confirmando o concerto com muitos (v.
27). Jerusalém seria restaurada ao final
dos sete “setes” ou semanas (v. 25) e o Messias viria sessenta e dois “setes”
mais tarde (v. 26). Se usamos a regra de
um dia por um ano e começamos as setenta semanas (ou 490 anos) em 457 a.C
quando Artaxerxes emitiu um decreto que resultou na reconstrução de Jerusalém,
todas as datas preditas se encaixam com o período de tempo findando em 34 AD.
Embora tanto
os preteristas como os futuristas creiam que os períodos de tempo profético de
Daniel são literais antes que simbólicos, eles implicitamente reconhecem a
validade da regra ano-por-um-dia quando chegam às setenta semanas no capítulo
9. Eles não usam as datas específicas
dadas acima (457 a.C e 34 AD), mas tampouco tentam encaixar a profecia em
setenta semanas literais – mais ou menos um ano e meio. Os futuristas freqüentemente datam o começo
do período ao redor de 444 a.C. e finalizam a sexagésima nona semana com uma
data para a crucifixão de Cristo em 33 ou 34 AD. Os preteristas começam as setenta semanas em
593 a.C. e o trazem ao tempo de Antíoco Epifanio c. 165 a.C. Mas apesar de tais variações, ambos
futuristas e preteristas comumente interpretam as setenta semanas em Daniel 9
como se referindo a um período de tempo que claramente se estende muito além de
“setenta semanas” literais, assim implicitamente admitindo que a regra
ano-por-um-dia tem valor pelo menos para este período de tempo profético.
O capítulo
11 de Daniel consiste de informação profética adicional dada a Daniel pelo anjo
Gabriel, baseada sobre a visão anterior dada no capítulo 8. O capítulo 8 provê os símbolos, e o capítulo
11 provê sua interpretação literal. Este
fato nos oferece uma razão adicional para ver os períodos de tempo profético em
Daniel como simbólico. Por exemplo, no
cap. 8 Daniel vê entidades simbólicas (reinos), mas no capítulo 11 estes são
apresentados como pessoas literais (reis individuais). No capítulo 8, Daniel vê
ações simbólicas ocorrendo (estrelas sendo lançadas por terra, etc.); no
capítulo 11, temos ações literais (batalhas reconhecíveis). E no capítulo 8 a Daniel é dado períodos de
tempo simbólico (tardes-manhãs); no capítulo 11 encontramos tempo literal
(anos).
Por exemplo, no cap. 11, os versos 6, 8 e 13 referem-se a
“anos”. Em cada caso, esses anos medem
(embora sem especificar um número particular) algumas das atividades dos reis
gregos no Egito (os Ptolomeus) ou na Síria (os Selêucidas). Esses reis gregos pertencem ao período de
tempo coberto pelos quatro chifres que surgiram da cabeça do bode (8:22). Este mesmo período de tempo do bode e seus
quatro chifres é também coberto por algumas das 2300 tardes-manhãs (8:14). Assim, quando utilizamos o capítulo 11 para
interpretar o capítulo 8, encontramos que as tardes-manhãs no capítulo 8
correspondem a anos literais, históricos, no cap. 11. Está claro, então, que o período de tempo no
cap. 8, as 2300 tardes-manhãs, devem ser simbólicas. Se elas fossem tempo literal, se estenderiam
por aproximadamente seis anos e meio – sem tempo suficiente para englobar as
atividades apresentadas como sua contraparte no cap. 11. Assim o próprio livro de Daniel ensina o
princípio dia-ano.
A PONTA (CHIFRE)
PEQUENA
Preteristas – Antíoco
Futuristas – futuro anticristo
Historicistas – Roma
Argumentos em favor de Antíoco IV Epifânio como a ponta pequena
1. Antíoco foi um rei selêucida. Como membro desta dinastia de reis, ele pode
haver surgido de um dos quatro chifres mencionados em Daniel 8:8 – sempre que
esta fosse a origem da ponta pequena.
2. A sucessão de Antíoco foi irregular. Se a frase “não por sua própria força”,
ao começo de Daniel 8:24 é original no TM, isto sugeriria que, historicamente
falando, a ponta pequena chegou ao poder através de uma sucessão irregular.
Um filho de Seleuco IV Filopáter devia haver
sucedido ao governante depois que o cortesão Heliodoro assassinou a seu
pai. Não obstante, o irmão do rei,
Antíoco IV, chegou ao trono em seu lugar ajudado pelos exércitos de
Pérgamo. É possível aplicar a frase “mas
não por sua própria força” a este rumo dos acontecimentos.
3. Antíoco perseguiu aos judeus.
4. Antíoco contaminou o templo de Jerusalém e
interrompeu seus serviços. Entretanto, resta ver se com efeito ele fez contra o
templo todas as coisas que Daniel 8 diz que a ponta pequena fez.
Portanto, existem dois argumentos razoavelmente
claros em favor da identificação da ponta pequena como Antíoco IV: sua sucessão
irregular e sua perseguição dos judeus.
Existem outros dois argumentos que possivelmente poderiam apoiar esta
identificação, mas devem ser limitados até certo ponto. Estes têm que ver com sua origem e com a
contaminação do templo. A questão aqui é
se estes quatro pontos, dois razoavelmente poderosos e dois limitados, provêem
uma base sólida para fazer esta identificação.
Do outro lado desta questão existe uma quantidade de argumentos de
Daniel 8 contrária a identificar a Antíoco IV com a ponta pequena.
1.
Natureza da
ponta pequena: um reino
a. A ponta pequena como um símbolo para
rei/reino. Daniel 8:23 identifica a
ponta pequena como um “rei”. Porém a
questão que pode surgir é se o termo não tinha o propósito de significar um
“reino” antes que um “rei” em particular.
Diversos pontos sugerem esta possibilidade. Dado que os quatro chifres precedentes são
identificados como reinos no verso 22, se poderia esperar foram sucedidos por
outro reino antes que por um rei individual.
Os dois chifres que aparecem sobre a cabeça do carneiro persa
representavam os “reis da Média e da Pérsia” (v. 20); quer dizer, as casas
dinásticas que governaram estas nações.
Voltando ao capítulo 7, a
interpretação historicista do chifre pequeno sugere que este representa ao
papado, que surgiu entre os chifres-nações da Europa, os quais resultaram do
quebrantamento da besta-império romana.
Também se deveria notar que se bem no cap. 7 os quatro animais se
referiam a “quatro reis” (v. 17), foram entendidas como representando reinos e
não monarcas individuais (v. 23). O
mesmo conceito é evidente previamente no cap. 2, onde se disse a Nabucodonozor
que ele era a cabeça de ouro que seria sucedido por outro reino (Dn 2:38, 39).
O único lugar entre estes
símbolos onde se pode apontar claramente a identificação de um chifre como um
rei individual é no caso de Alexandre, representado pelo grande chifre do bode
grego (Dn 8:21). Obviamente, o chifre de
Alexandre não surgiu dos outros quatro do bode.
Se o chifre pequeno de Daniel 8 saiu de outro chifre e é interpretado
como um rei, tal interpretação resultaria única entre esta série de
símbolos. Ainda que este detalhe não é
definitivo quando estudado isoladamente, parece mais razoável supor que o
chifre pequeno representa um reino corporativo antes que um rei individual.
2.
Grandeza
comparativa da ponta pequena.
O carneiro persa “se engrandecia” (8:4); o bode
grego “se engrandeceu sobremaneira” (v. 8).
Por contraste, o chifre pequeno se engrandeceu extremamente em
diferentes direções. No nível horizontal
“cresceu muito” rumo ao sul, o oriente e a terra gloriosa. No plano vertical “se engrandeceu até o
exército do céu”, e finalmente “se engrandeceu contra o príncipe dos exércitos”
(8:9-11).
O verbo “engrandecer”, gadal,
aparece somente uma vez em relação com a Pérsia e só uma vez com a Grécia,
porém aparece três vezes com o chifre pequeno.
Em vista deste uso verbal, e do advérbio para “sobremaneira” que o
acompanha na primeira INSTANCIA, é
evidente que esta é uma progressão do comparativo ao superlativo. Transferindo isto em termos históricos,
significa que Antíoco IV deveria exceder em grandeza ao Império Persa e ao
Grego. Obviamente, isto não foi assim,
dado que ele governou somente uma parte do Império Grego e com pouco êxito.
Este argumento encontra um apoio adicional quando
regressamos ao paralelismo do chifre pequeno de Daniel 7. Ali descobrimos outro detalhe que milita
contra a identificação do chifre pequeno com Antíoco IV: a cena de juízo. Parece improvável que a corte celestial fosse
convocada em sessão em tão grandiosa escala com o propósito de julgar a Antíoco
IV. Um ambiente muito menos fascinante,
tal como a predição de Micaías filho de Imla, concernente a Acab, em 1 Reis 22,
deveria haver sido adequado para Antíoco IV.
Em outras palavras, por causa de sua grandeza, a visão da sessão da
corte celestial em Daniel 7 não faria jogo com a importância política e
religiosa de quem estava sendo julgado ali, se é que o chifre pequeno fosse
Antíoco. Dado o paralelismo entre os
chifres pequenos de Daniel 7 e 8, isto simplesmente enfatiza a disparidade
entre Antíoco IV e a grandeza superlativa do chifre pequeno de Daniel 8.
3.
Atividades
do chifre pequeno.
a. Conquistas.
O chifre “cresceu muito para o sul, o oriente e a terra gloriosa”
(v. 9).
(1) Para o sul.
Antíoco III foi o rei que agregou a Palestina ao território
governado pelos selêucidas quando derrotou as forças de Ptolomeu em Panéias, em
198 a.C. Antíoco IV tentou estender sua
fronteira sul até o Egito com a campanha de 170-168 a.C. Teve êxito ao conquistar a maior parte do
Delta em 169 a.C. No ano seguinte
marchou sobre Alexandria para empreender o seu sítio, porém teve que regressar
por ordem de um embaixador romano, e assim abandonou suas pretensões de
conquista no Egito. De maneira que seu
êxito parcial no Egito foi transitório, e é duvidoso que na realidade crescesse
“muito para o sul”.
(2) Para o oriente. Antíoco III subjugou o oriente em suas
campanhas de 210-206 a.C., que o levaram até a fronteira da India. Entretanto, depois que os romanos o
derrotaram em Magnésia, a maioria dos territórios envolvidos se rebelaram e se
tornaram independentes.
Antíoco IV tentou
reconquistar algo deste território nos últimos anos de seu reinado. Não obstante, depois de alguns êxitos diplomáticos
e militares iniciais na Armênia e Média, se viu impossibilitado de avançar
contra os partos. Morreu no curso de sua
campanha contra estes últimos, aparentemente de causas naturais, no inverno de
164/3 a.C.
Enquanto Antíoco IV teve
alguns êxitos iniciais, não conseguiu nem de perto tanto como Antíoco III; e
esse projeto ficou incompleto no momento de sua morte. Portanto, é pertinente perguntar se a
extensão destes êxitos militares parciais e incompletos se encaixaria com a
predição profética concernente ao chifre pequeno como “crescendo excessivamente
para o oriente”.
(3) Para a terra gloriosa. Em 1 Mac 1-6 se menciona a Antíoco IV como o
governante selêucida que profanou o templo e perseguiu aos judeus. Isto não ocorreu por causa de alguma conquista
própria, e sim porque Antíoco III já havia conquistado a Palestina aos
Ptolomeus em 198 a.C. Ele não podia
haver “crescido excessivamente para a terra gloriosa”, presumivelmente Judéia,
em algum sentido de conquista o adquirindo controle sobre ela através de uma
ação militar. Somente pôde haver
“[crescido] excessivamente” no sentido de exercer ou abusar de seu controle
sobre ela, uma vez que já era parte de seu reino quando ascendeu ao trono.
Ainda que Antíoco IV não
foi o conquistador da Palestina, as derrotas sofridas aí perto do final de seu
reinado resultou na independência da Judéia do domínio selêucida. Para o fim de 164 a.C. os judeus libertaram o
templo contaminado das mãos dos selêucidas e o rededicaram (1 Mac 5:52). Antíoco morreu no Oriente pouco tempo depois,
ao princípio de 163 a.C. (1 Mac 6:15).
(4) Resumo.
Antíoco IV nunca capturou Alexandria, a capital do Egito, porém
desfrutou de êxitos militares no Baixo Egito durante sua campanha de 169-167
a.C. Entretanto, teve que abandonar suas
pretensões no Egito por causa da pressão diplomática de Roma. Só a primeira parte de sua campanha para o
oriente foi exitosa. Morreu antes de
haver realizado seus planos para essa região e consolidar seu controle sobre
ela.
Ainda que afligiu mais
duramente aos judeus que seus predecessores, não foi ele quem anexou Judéia ao
império selêucida, dado que já era parte desse domíno quando ascendeu ao
trono. As três derrotas sofridas ali por
suas tropas, pouco tempo antes de que morresse, iniciaram um processo que
resultou na independência da Judéia.
As três conquistas de
Antíoco IV nestas três esferas geográficas foram insignificantes e inclusive
negativas, em alguns casos. De maneira
que não se ajusta bem às especificações da profecia, a qual declara que o chifre
pequeno “cresceu muito para o sul, para o oriente, e para a terra gloriosa”.
b. Atividades antitemplo.
4.
Fatores de
tempo para o chifre pequeno.
a. Tempo de origem. O surgimento da ponta pequena está datado
desde o ponto de vista dos quatro reinos que saíram do império de
Alexandre. Devia surgir “no fim do
reinado” deles (8:23).
A dinastia selêucida
esteve composta de uma lista de mais de 20 reis que governaram desde 311 até 65
a.C. Antíoco IV foi o oitavo na lista, e
governou desde 175 a 164/3 a.C. Uma vez
que mais de uma dúzia de selêucidas governaram depois dele, e menos de uma
dúzia governaram antes dele, dificilmente se pode dizer dele que surgiu “no fim
do reinado” deles.
Seria mais correto fixar
o período de seu governo na metade da dinastia; e a cronologia apoia este
argumento. Os selêucidas governaram por
um século e um terço antes de Antíoco IV e um século depois dele. Este fato coloca a este governante particular
a duas décadas do ponto médio da dinastia.
Desta maneira, Antíoco IV não surgiu “no fim do reinado”.
b. Duração. Os dados cronológicos dados na pergunta e a
resposta de Daniel 8:13, 14, hão sido interpretados como a duração da
profanação do templo ou a perseguição dos judeus. Dispomos de dados precisos para a interrupção
dos serviços do templo e sua contaminação.
O ídolo pagão foi estabelecido no altar de ofertas queimadas no 15o
dia do 9o mês do 145o ano da era selêucida, e nesse lugar
começaram os sacrifícios pagãos 10 dias mais tarde (1 Mac 1:54, 59).
No 25o dia do
9o mês do 148o ano da era selêucida, se consagrou o novo
altar construído e as celebrações continuaram até 8 dias mais tarde (1 Mac
4:52, 54). De maneira que aqui está
envolvido um período de três anos, ou de três anos e 10 dias. Nem os 2300 dias literais (6 anos, 4 meses e
dois terços de um mês) nem os 1.150 dias literais (compostos por pares de
sacrifícios vespertinos e matutinos para fazer dias completos) se ajustam a
este período histórico, desde que inclusive o mais curto dos dois períodos se
excede em dois meses.
c. Fim.
Quando Gabriel chegou para explicar a Daniel a visão do capítulo 8,
introduziu sua explicação com a declaração: “Entende, filho do homem, porque a
visão é para o tempo do fim” (8:17). Ao
começo de sua verdadeira explicação, Gabriel enfatizou de novo este ponto ao
declarar: “Eis que te farei saber o que há de acontecer no último tempo da ira;
porque esta visão se refere ao tempo determinado do fim” (8:19). As frases “no último tempo” e “tempo do fim”
também são essenciais para uma correta identificação da ponta pequena.
Desde que a terceira e
final seção da visão está maiormente relacionada com a ponta pequena e suas
atividades, parece razoável concluir que a ponta pequena pertence mais
diretamente ao “tempo do fim”. O fim da
ponta pequena, portanto, deveria coincidir de uma forma ou outra com o “tempo
do fim”.
Como mínimo cronológico,
as profecias temporais de Daniel (Dn 9:24-27) tinham que estender-se até o
tempo do Messias, no 1o séc. AD.
“O tempo do fim” só podia chegar algum tempo depois do cumprimento dessa profecia. Portanto, não há forma em que se possa haver
coincidido a morte de Antíoco em 164/3 a.C. com o “tempo do fim”, que é quando a ponta pequena chegaria ao seu
fim.
5.
Natureza do
fim do chifre pequeno
De acordo com a profecia, a ponta pequena devia
chegar ao seu fim de uma maneira particular: “mas será quebrado sem esforço de
mãos humanas” (8:25). Esta fraseologia
soa, de certo modo, de uma maneira similar com a descrição da sorte para o rei
do norte: “mas chegará ao seu fim, e não haverá quem o socorra” (11:45). O fim da ponta pequena de Daniel 7
aconteceria por uma decisão de Deus na corte celestial. Em Daniel 2, a imagem chegava ao fim por uma
pedra que a golpeava nos pés, e essa pedra era cortada sem o auxílio de qualquer mão humana (Dn 2:45).
Todas as conclusões para as profecias de Daniel 2,
7, 8 e 11 haveriam de produzir-se pela intervenção direta de Deus na história
humana. Visto que a natureza da
declaração que aparece em Daniel 8:25 (e seus paralelos nas outras profecias de
Daniel), é difícil ver como Antíoco IV poderia cumprir esta especificação
particular. Até onde sabemos (cf. 1 Mac
6), ele morreu em 164/3 a.C. de causas naturais – não em uma batalha nem por
circunstâncias extraordinárias – durante o curso de sua campanha pelo oriente.
6.
Origem do
chifre pequeno
Qual a origem da ponta pequena? De um dos quatro chifres ou de um dos quatro
ventos? A importância desta questão
é: se o chifre pequeno se desenvolveu a
partir do chifre selêucida (uma das divisões do império grego), então ele
poderia ter sido um rei selêucida semelhante a Antíoco Epifanio. Entretanto, se procedia de um dos ventos,
então não representaria a Antíoco IV, uma vez que ele procederia mais
naturalmente do chifre selêucida. A análise da frase revela que a origem é de
um dos quatro ventos, quer dizer, de uma das direções do espaço. A compreensão da sintaxe dos vv. 8 e 9 indica
que quando o chifre pequeno apareceu no cenário da ação, não procedeu do chifre
selêucida nem dos outros três. Na visão
panorâmica simplesmente ele é visto como procedendo de uma das direções do
espaço. Deste modo, a sintaxe desta
declaração não apoia a pretensão de que o chifre pequeno se desenvolveu a
partir do chifre/reino selêucida.
A Ponta Pequena
Shea, 2:137
A
divisão de Roma Imperial abriu o caminho para o surgimento de outro poder. Este poder é representado por outro chifre,
um 11o (7:8). Há alguma coisa
sobre este poder, entretanto, que o distingue dos outros dez. Ele era distintamente um poder religioso,
enquanto os outros eram políticos em natureza.
Assim como houve uma fase distintamente religiosa para a obra do chifre
pequeno em Daniel 8, assim a ponta pequena no cap. 7 também entra em operação
como um poder distintamente religioso.
Este caráter religioso é demonstrado pelas grandes palavras que ele fala
contra o Deus Altíssimo e por sua perseguição dos santos de Deus (vv. 8,
25). Estas características religiosas
permanecem em contraste às ações puramente políticas dos quatro poderes que
apareceram previamente na profecia. Na
discussão do chifre pequeno em Daniel 8, concluímos que esta fase religiosa de
sua obra representou a igreja romana encabeçada pelo papado, desde que esta era
a fase religiosa de Roma que sucedeu a fase imperial. A mesma identificação se encaixa bem aqui no
cap. 7 por um número de razões.
1.
Deve ser notada a origem da ponta pequena. Origina-se da quarta besta romana (v. 8), e
não de qualquer dos outros três prévios.
Assim este poder deve ser romano em caráter. Mas não é a própria Roma imperial, pois
aquele poder era representado pelo animal do qual este chifre cresceu.
2.
O tempo quando este chifre se levantou deveria ser
notado. Ele surgiu após os outros dez chifres.
Isto significa que ele se levantou sobre as ruínas da quebrantada Roma
imperial.
3.
Três chifres foram arrancados diante da ponta
pequena. Um fenômeno interessante
ocorreu no sexto séc. AD. Durante aquele
séc. houve uma série de guerras que foram tanto política e religiosa em
natureza. Elas foram políticas porque
algumas das tribos bárbaras sofreram derrotas durante o curso dessas
guerras. Mas aquelas tribos derrotadas
eram cristãs! Aqui temos o espetáculo de
um poder cristão – o Império Romano liderado pelo imperador e o bispo de Roma –
se opondo a outros poderes cristãos, tais como os Ostrogodos, os Vândalos e
talvez os Visigodos. Essas tribos eram
cristãs, mas eles abraçavam uma espécie particular de cristianismo. Eles eram arianos.
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