06/05/2011

UNIÃO PELA CRUZ

VINHO NA BÍBLIA - PARTE I



Por: Pr. Demóstenes Neves da Silva

“A vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. Provérbios 4:18.”

Exemplos da Tolerância de Deus

É um conceito bíblico, expresso de forma clássica no texto acima, que a luz é progressiva, a santificação é obra de uma vida e o conhecimento aumenta a cada dia para o povo de Deus.
Muitas verdades, que no passado eram conhecidas apenas parcialmente ou até virtualmente desconhecidas, foram crescendo e se tornando mais compreendidas pelos servos de Deus.
Veja-se por exemplo que, da mesma forma que Deus tolerou o uso de bebidas fermentadas, suportou também a escravatura como um mal contingente, passageiro, mas é evidente na Escritura que o escravismo não era e nem é parte do plano ideal de Deus, que quer que todos os homens sejam irmãos e não busquem ser servidos mas servir. Embora tolerando, Deus deu leis para regulamentar a prática até que o ideal fosse atingido. (Êx. 21:16, 20; Ef. 6:9; Col. 4:1)
Outros exemplos de práticas que Deus tolerou são o divórcio e a poligamia, que, conforme é declarado na Bíblia, não faziam parte do plano ideal divino. Por isso, Ele deu leis que regulamentavam e restringiam essas práticas tão em voga e até legalizadas nos dias bíblicos entre as nações pagãs. O Seu povo teria que aprender, depois de quatro séculos de escravidão e em estado semi-bárbaro, os rudimentos do “evangelho” até atingirem o ideal de Deus. (Ex. 20:7-11; Deut. 21:10-17; Mal. 2:12-16)
O próprio Jesus refere-se ao divórcio como tolerado em razão da “dureza dos corações” dos israelitas, mas, disse o Salvador, no princípio não foi assim. Mat. 19:4-8.

Males das Bebidas Fermentadas

Deus também tolerou as bebidas fermentadas. É evidente pelas experiências com viciados que, segundo especialistas na área de recuperação de alcoólatras, a maneira mais segura de evitar o vício é “não tomar o primeiro gole”.
Deus jamais sancionaria um hábito que, mesmo em seu moderado uso social é responsável pelas mais dramáticas e terríveis estatísticas no que se refere à degeneração da mente, corpo e espírito dos homens.
Professos seguidores da palavra de Deus jamais admitiriam envolver-se com a guerra, pelos seus horrores e mortandade, e no entanto, apóiam o “uso moderado” de bebidas alcoólicas sem considerar que as mortes por imprudência nas estradas e no trabalho, montam um número anual maior do que o de muitas guerras. Sem falar em deficientes mentais filhos de ex-bebedores sociais e agora alcoólatras, lares esfacelados, invalidez, desemprego, aos centenas e milhares além de outros males. E tudo isso causado na maioria dos casos por pessoas que bebiam socialmente, somente nos “fins de semana” e possivelmente consideravam-se “moderadas”.
Considerado doença pela OMS (Organização Mundial de Saúde), o alcoolismo ainda está em expansão porque muitos, até mesmo religiosos, sancionam doutrinariamente o seu uso. Brincar com um copo desse vírus é perigoso. É brincar com veneno!
Portanto, devemos ter em mente que o uso de qualquer marca ou quantidade de bebida alcoólica é um perigo de crime contra si próprio e contra o seu próximo, e ainda ficar aquém do ideal da Escritura neste particular como veremos.

A Bebida Alcoólica no Antigo Testamento

Outro ponto importante que esclarece a questão do uso de vinho alcoólico e outras bebidas fermentadas naturalmente, bem como a tolerância de Deus quanto a essa prática, diz respeito aos hábitos e recursos alimentares dos tempos bíblicos. É claro que não dispondo das modernas técnicas de engarrafamento de sucos, sem geladeiras, sem conservantes como temos hoje e sem embalagens apropriadas, toda uma produção de sucos e sumos estavam sujeitas ao processo natural de fermentação.
Os odres (recipientes de couro costurado), vasos de barro, madeira ou metal não impediam a ação das bactérias, tendo os antigos que conviver com as condições que dispunham nesta parte. Bebiam, pois, vinho sem fermentar quando ainda novo, recém espremido das uvas, chamado no Antigo Testamento de TIROSH ou vinho novo, esta palavra aparece 38 vezes no AT. A bebida consumida tempos depois e já fermentada naturalmente, ou que foi fabricada em processo de fermentação era denominada normalmente de SHEKAR (usada 23 vezes no AT). Para bebidas em geral, fermentadas ou não, era usado o termo YAIM indistintamente, e que aparece 140 vezes no AT.
Portanto, a própria necessidade alimentar de uma bebida nutritiva e a carência de técnicas e recursos de conservação modernos, obrigava-os a terem na fermentação natural da bebida uma necessidade e mal necessário, uma vez que o grau alcoólico nestas bebidas, trazia embutido o problema do vício do alcoolismo, embriaguês e suas conseqüências morais, físicas e espirituais. Por isso o ideal era não usá-las a exemplo dos recabitas, povo abstêmio que vivia entre os israelitas, e cuja virtude e lealdade foi ressaltada pelo próprio Deus. Jer. 35:2-5.
Por outro lado, a fermentação era um bem, pois tinha para as bebidas a função de provavelmente o único e universal processo de conservação para os sucos sem a deterioração total como é o caso de muitos xaropes vendidos hoje em dia. Era, pois, um mal necessário, mas um mal. Justifica-se, desse modo, o ideal de Deus na declaração do sábio em Provérbios 23:31 a 35: “ Não olhes para o vinho quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente...” Não se deve nem mesmo desejá-lo, olhando-o – NÃO OLHES! Porque “no seu fim morderá como a cobra e como o basilisco picará.” E, continua o sábio: “Olharás mulheres estranhas” e, “teu coração falará perversidades”.
“Dirás: espancaram-me, bateram-me mas quando acordar beberei outra vez.”
Que desfecho terrível para um simples olhar e certamente o primeiro gole! São esses os passos para o vício: olhar, experimentar e a despeito das conseqüências, beber outra vez!
Não estamos sujeitos aos hábitos mantidos pela “dureza de corações” e atraso em que viviam os homens do passado. Não estamos obrigados a sofrer a limitação dos recursos de técnicas de conservação como eles; não precisamos nem devemos correr o perigo de consumir tais bebidas, mesmo porque, atualmente, em sua grande maioria, passam por processos industriais de fermentação e destilaria, o que aumenta artificialmente, e em muito, o teor alcoólico da bebida.
Concluímos até aqui que, se as bebidas naturalmente fermentadas eram, na antiguidade, a única forma de se estocar sucos, sendo uma necessidade daqueles tempos, apesar de suas conseqüências prejudiciais à saúde, constitui-se, para nós hoje, um uso desnecessário, contrário ã luz que temos, temerário e perigoso, mais ainda considerando-se a destilação que aumenta o seu grau alcoólico.
Certamente tal costume não concorda com o testemunho cristão e contraria o princípio bíblico, submetido ao qual todos os usos e práticas da igreja devem estar em harmonia sob pena de contradição: I Cor. 3:16, 17. Somos o templo de Deus e nada que o contamine, prejudique ou o ponha em risco deve ser usado.

Referências Bíblicas Contrárias às Bebidas Fermentadas

Veremos, agora, mais alguns textos que corroboram a recomendação de não usar bebidas fermentadas:

1. O vinho e a bebida forte fazem errar e desencaminhar até o sacerdote e o profeta. Isa. 28:7, 8.
2. Há uma maldição para os que seguem a bebedice. Isa 5:11, e outra maldição para os que dão bebida ao seu próximo. Hab. 2:15.
3. As bebidas alcoólicas são escarnecedoras e alvoroçadoras. Prov. 20:1.
4. O ideal é nem olhar para o vinho, pois é traiçoeiro, quanto mais usá-lo! Prov. 23:31, 32.
5. O beberrão cai em pobreza. Prov. 23:20, 21.
6. Não vos embriagueis com vinho, mas enchei-vos do Espírito. Ef. 5:18. A bebida alcoólica é incompatível com o Espírito Santo, conforme deixa claro a conjunção adversativa “mas”.
7. O bispo não deve ser dado ao vinho . I Tim 3:3; Tito 1:7. Mas o bom mesmo é não beber vinho devido ao escândalo que pode provocar em outros. Rom 14:21. A bebida está relacionada com as obras da carne. Gál. 5:21.
8. Normalmente, os que hoje são bêbados não começaram com a intenção de sê-lo. Cuidado! Os bêbados não entrarão no reino de Deus. I Cor. 6:10.
9. A bebida era incompatível com o serviço a Deus pois os encarregados de atividades no Santuário não podiam beber. Lev. 10:9.
10. Mesmo no conceito liberal da mãe do rei Lemuel (Prov 31:6) os que ministravam a justiça e os nobres não deviam beber. Prov. 31:4, 5.
11. Em Provérbios 31:6 acha-se a opinião da mãe do rei Lemuel e não uma posição divina sobre o assunto. Os amigos de Jó, embora piedosos, também deram opiniões religiosas equivocadas pelo que foram posteriormente repreendidos por Deus (Jó 42:7-9)
12. Miquéias adverte que um povo mau teria profetas falsos e mentirosos que defenderiam o vinho e a bebida forte. Miq. 2:11.
13. O vinho e o mosto tiram a inteligência. Osé. 4:11.
14. Pessoas dadas ao vinho são desleais, soberbas e não se contém. Hab. 2:5.
15. Aqueles que desejam fazer a vontade de Deus devem abster-se do uso, mesmo moderado, de bebidas alcoólicas, considerando as seguintes razões: a luz que temos, o ideal de Deus e os males e perigos desse hábito. A total abstinência é a posição a ser assumida por aqueles que estão preparando o caminho para a volta do Senhor como fez João Batista. (Luc. 1:15)
16. Entende-se, pois, que Jesus, nas bodas de Caná, transformou a água em vinho novo, sem fermentar (TIROSH no AT), o puro suco de uva, o vinho de melhor qualidade..
17. Em função dos argumentos acima apresentados a passagem de Deut. 14:26 é mais uma cena do hábito tolerado por Deus apesar das conseqüências e por causa das contingências.
18. Em I Tim 3:8 é recomendada a moderação em reconhecimento ao perigo que a bebida oferecia, em vista da resistência que a proibição sumária poderia provocar. Esta opinião do apóstolo foi moldada para restringir um hábito, conforme o texto deixa claro e não para sancioná-lo.
19. Em I Tim 5:23 o vinho é recomendado para uso medicinal, conforme crença do apóstolo, usado pouco com água e não puro como bebida de prazer. Este texto não serve para defender o uso ou o vício da bebida.

Conclusão

Buscar, neste caso, exemplos bíblico para justificar o consumo da bebida equivale a apoiar também o divórcio fácil, poligamia e escravidão que foram, igualmente, alvo da tolerância de Deus. Coloca-se também a Bíblia, injustamente, como co-responsável pelas tragédias decorrentes da indulgência com as bebidas fermentadas. Os costumes e práticas dos antigos, alvo da tolerância de Deus, não refletem necessariamente a vontade divina.

O verdadeiro cristão jamais defenderá tal hábito.

20/02/2011

O ARMAGEDON NA PERSPECTIVA BÍBLICA



material preparado baseado no artigo de Hans K. LaRondelle:"O ARMAGEDOM NA PERSPECTIVA BÍBLICA", pelos pastores:Edinaldo Juarez; José Cícero da Silva;Fernando Lopes de Melo em 2005

O ARMAGEDOM NA PERSPECTIVA BÍBLICA

O Propósito do Autor

O propósito do artigo em analise é “investigar o significado do ‘Armagedom’ em Ap. 16.16 de uma perspectiva bíblica, isto é, tanto seu contexto imediato como também os seus tipos e prefigurações hebraicas no AT”.

Breve Sumário
1. Introdução
2. Conceituação
3. Base Bíblico-histórica da Batalha do Armagedom
4. Aspectos Históricos
5. Breve Histórico da Visão Adventista
6. Visão do Literalismo Restrito do Armagedom
7. Análise do Texto
8. Conclusão

Introdução

O artigo “O Armagedon na Perspectiva Bíblica”, de Hans K. LaRondelle, apresenta uma proposta de estudo sobre o tema do Armagedon que se pode sintetizar em três pontos principais: (1) uma abordagem bíblica responsável; (2) a aplicação dos relatos da profecia apocalíptica; (3) a contextualização histórica na conjuntura das profecias não cumpridas à luz dos últimos eventos.
A evidência das abordagens de LaRondelle fornece reflexões que projetam no texto bíblico uma forma diferenciada de conceber os relatos nele contidos, que parecem estar mais próximo da visão histórica não-ortodoxa, mostrando que os eventos apocalípticos não cumpridos têm sua base nos tipos do Antigo Testamento. Na proposta evocada pelo autor há aspectos não enfatizados com tanta clareza de substância no que se refere às questões históricas, de estruturação didática e desenvolvimento analítico do texto; o que procuraremos discorrer através destas considerações.
Muitas teorias especulativas têm sido propostas na tentativa de interpretar o Armagedom mencionado em Apocalipse 16:12-16. Hoje, uma das mais populares é a de que ele será uma guerra nuclear de grandes proporções. Como já ocorreram duas guerras mundiais, e o texto bíblico fala que nesse confronto estarão envolvidos os “reis do mundo inteiro” (verso 14), muitos imaginam que o Armagedom só poderá ser uma terceira guerra mundial. Por mais fascinante e lógica que essa idéia possa parecer, ela não passa de uma teoria especulativa, sem base bíblica.
Conflitos bélicos certamente continuarão existindo, e mesmo se intensificando, até o fim dos tempos (ver Mt 24:6-8). Mas o Armagedom é descrito no livro do Apocalipse como “a peleja do grande Dia do Deus todo-poderoso” (16:14), travada entre os poderes demoníacos da “besta” e dos “reis da terra, com os seus exércitos”, de um lado, e o “Rei dos reis e Senhor dos senhores” e “o seu exército”, do outro (19:16 e 19).


Conceituação

Definição do termo Armagedom: (Da transliteração grega de uma frase hebraica geralmente considerada como sendo Har-megiddo, “Monte de Megido.”) O termo “Armagedom” ocorre na *Bíblia somente em Apoc. 16:16, com o nome hebraico para “lugar” no qual os “espíritos imundos” (v. 13) “reúnem os reis da terra” para a “batalha do grande dia do Senhor Todo-Poderoso” (v. 14) — a designação de João para o que é popularmente chamado de batalha do Armagedom.
Armagedom quer dizer Monte da Matança, monte da destruição, monte da maldição. Está em oposição ao Monte da Bênção, Sião. E monte não é a mesma coisa que vale, mas os dois estão sempre juntos. Para haver vale é preciso haver monte. Megido é uma palavra do Velho Testamento que já é transliterada como Magedom, significando matança. Houve uma batalha em Megido (Juízes 4 e 5) Megido é um tipo do Monte da Maldição. Isto, porém, não é uma conclusão final sobre a origem da palavra Armagedom. Não precisamos ser dogmáticos quanto a isto.

É: Conflito cósmico entre as forças espirituais do bem e do mal, que culminará no embate final de dimensões universais.

Não é: Uma batalha limitada geograficamente e envolvendo apenas algumas poucas nações politicamente interessadas em demandas comerciais.

Base Bíblico-histórica da Batalha do Armagedom

Partindo do principio de que o propósito do artigo em analise é “investigar o significado do ‘Armagedom’ em Ap. 16.16 de uma perspectiva bíblica, isto é, tanto seu contexto imediato como também os seus tipos e prefigurações hebraicas no AT” ; compreendemos que o autor poderia oferecer uma base bíblico-histórica mais didática e consistente ao invés de sintetizar apenas no episodio do Egito e de Babilônia, os eventos que prefiguraram o embate entre as forças confederadas do mal e a soberania de Deus tendo o povo do concerto como centro do conflito.
O fato fortemente argumentado neste mesmo artigo e em outros materiais de relevante importância, de que este conflito descrito no capitulo 16 de Apocalipse, no contexto do derramamento das sete últimas pragas, representa um conflito cósmico de dimensões universais e não se restringe a uma batalha limitada geograficamente e envolvendo apenas algumas poucas nações politicamente interessadas em demandas comerciais, oferece base para a observação critica que se faz ao artigo em estudo.
A seguir sugerimos uma abordagem do tema do conflito cósmico que culminará no embate final conhecido como Armagedom, a partir da perspectiva de sua construção bíblico-histórica respeitando uma seqüência cronológica que nos levará à culminância do processo na manifestação apocalíptica da sexta praga sobre a Babilônia moderna e mística.
As Escrituras revelam que o Grande Conflito entre o Cristo e Satanás, começou misteriosamente no ambiente celestial: “Houve peleja no céu. Miguel e seus anjos pelejaram contra o dragão. Também pelejaram o dragão e seus anjos; todavia, não prevaleceram;nem mais se achou no céu o lugar deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás.” (Apoc. 12.7-9).
A próxima cena que vemos no contexto do conflito cósmico se desenrola no Éden quando a serpente possuída engana a mulher e lança a raça humana no abismo do pecado.
No dramático relado do embate entre Caim e Abel encontramos os dois principais elementos presentes no conflito cósmico entre o Bem e o mal: a verdadeira adoração ao objeto digno de recebê-la (Apoc. 14.6-11) e o método de salvação oferecido aos perdidos.
Sabe-se que a nação egípcia foi historicamente a primeira grande inimiga de Israel. O cativeiro egípcio (1491 a.C.) tornou-se uma fonte de grande opressão para o povo de Deus ao ponto de o Senhor ouvir o clamor do Israel cativo (Êxo. 2. 24). Na pessoa de Moises e através do juízo das dez pragas Deus buscou libertar Seu povo para que pudesse adorá-Lo (Êxo. 4.22-23). Neste episodio encontramos variados elementos tipológicos (a exemplo das pragas e do cântico de Mirian que têm seu paralelo no relato profético apocalíptico) que aludem ao final dos tempos e tornam esta batalha entre o Egito e suas divindades pagãs contra Deus, Moisés e o povo de Deus um tipo do grande Armagedom anunciado em Apocalipse 16.
Encontramos também um paralelo histórico para as sete pragas do Apocalipse, que dão contexto para o Armagedom, nas sete punições de Israel apóstata descritas em Leviticos 26 as quais constituem um ato de juízo da parte de Deus.
Babilônia (605 a.C.) surge na historia como o principal elemento tipológico do grande embate cósmico entre os poderes confederados do mal e o povo de Deus. “No AT Babilônia destruiu o templo de Deus em Jerusalém, pisou na verdade religiosa, blasfemou o nome de Yahweh e oprimiu até a morte o Israel de Deus (Deut. 1-6). Essas parecem ser as essências teológicas da Babilônia que permanecem inalteradas no seu antítipo apocalíptico (Apoc. 14.8; 17.1-6; 18.1-8)”.
Elias no Carmelo. A batalha espiritual entre Elias e os profetas de Baal no monte Carmelo, que fica próximo à região de Megido, pode ser vista como uma prefiguração do Armagedom.
O embate descrito em Apocalipse 16 nos reporta para o episódio da “batalha contra, Sísera (1300 a.C.), o comandante militar dos reis cananeus, e à surpreendente vitória obtida junto às águas de Megido (Juízes 5.19)” . Novamente vemos Deus participando ativamente das batalhas do Seu povo, verdade enfatizada no contexto profético do Armagedom final. O cântico de vitória de Débora anuncia a derrota dos inimigos de Deus e nos faz lembrar o cântico final dos remidos sobre o monte de Sião (Apoc. 14.1,2).

Aspectos históricos

As evidências internas que emergem do texto no relato angelical dirigido a João dão certa especificidade ao episódio, que qualquer tentativa que traga outro significado, como muitos têm pretendido, afirmando que o evento do Armagedon se desembocará em uma guerra geopolítica, torna tal argumento essencialmente conflitivo com o contexto apocalíptico descrito por João quando faz menção a sexta praga.
De fato, os elementos literários fornecidos por João corroboram a discussão de uma posição menos dogmática do tema em epígrafe necessariamente no que tange aos aspectos históricos, o que significa dizer que sem esta abordagem o conceito do Armagedon torna-se um tanto fragilizado, e, talvez, os conflitos existentes entre as posições conceituais do termo seriam menos acaloradas.
Os ecos que aparecem no Apocalipse, têm sua origem primária nos episódios descritos por Daniel dentro do período histórico que cobriu o Império Neobabilônico, sobretudo no personagem central, Ciro. Neste ponto o Dr. LaRondelle traz à baile uma antiga discussão, ou seja, o papel da História para comprovar os relatos bíblicos, sobretudo no contexto das profecias clássicas do AT. Por outro lado, sua abordagem está centrada num panorama geral, apesar das fontes que lança mão para consubstanciar seus argumentos, como Heródoto e Xenofante. Como já se disse alhures apenas de maneira esparsa.
Este silêncio histórico diante dos inúmeros trabalhos já elaborados pelos pesquisadores da História Clássica, como Will Durant; Ciro Flamarion Cardoso e Perrey Anderson trariam ao texto uma abordagem mais contundente. Porém, não se notou nenhuma fonte histórica atualizada que viesse contribuir na elucidação do personagem histórico/tipológico no cumprimento profético e na conseqüente queda da Babilônia Antiga, fato este deveras evidenciado pelos autores acima citados, pois centralizam suas pesquisas à luz das fontes arqueológicas mais recentes. Apoio esse que não se pode encontrar nas obras de Heródoto e Xenofante, pois suas discussões no mundo acadêmico estão em certo sentido superadas.
Portanto, é preciso esclarecer ainda que esta inserção não seja um mero discurso argumentativo desnecessário, ao contrário, ele passa a ser uma parte inclusiva da pesquisa quando tomamos como base o princípio historicista como método de interpretação profética. É neste aspecto que se busca uma fundamentação histórica mais conclusiva
Quiçá seja necessário gastar mais tempo na fundamentação histórica com uma metodologia mais específica, quer dizer, sugere-se uma abordagem utilizando-se o método conhecido/desconhecido. Aliás, este foi o método que Jesus mais se valia quando interpelava seus discípulos e seguidores.
Acredita-se que ao lançar mão desse método e considerando as reflexões supracitadas não haveria lugar para uma posição dogmática e a insistência obtusa de uma posição geopolítica para o cumprimento dos eventos mencionados no episódio de Apocalipse 16:16 tornar-se-ia amorfa.

Visão do Literalismo Restrito Sobre o Armagedom

A corrente de eruditos que defende um cumprimento literal da sexta praga vê no Armagedom de Apoc. 16.16 um embate de dimensão político-econômica que encontra seu clímax num conflito mundial nuclear que terá como cenário o “Vale do Megido, junto ao Monte Carmelo, ao norte da Palestina” , onde os exércitos judeus e gentios travarão a decisiva guerra de destruição universal. Essa idéia é sugerida pela New Scofield Reference Bible e se “apóia na suposição de que a linguagem simbólica e a figura da profecia bíblica devem ser aplicadas com absoluta literalidade”
Um número significativo de modernos intérpretes das profecias bíblicas, a maioria deles fundamentalistas, compreende que estamos vivendo no período da última geração antes do dia do Juízo Universal. Pressupõe que as declarações proféticas da Bíblia devem ser entendidas sob a égide do literalismo estrito como forma de abordar a História em desenvolvimento. Esse enfoque restringe o relato bíblico-histórico a apenas uma forma de interpretação e limita a aplicação das palavras, dos nomes e lugares hebraicos determinando que “todas as descrições étnicas e geográficas de Israel e seus antigos inimigos precisam ter hoje um cumprimento absoltamente literal no Oriente Médio”

Breve Histórico da Visão Adventista Sobre o Armagedom

Podermos afirmar que nos primórdios do adventismo surgiram diversas posições em torno do assunto do Armagedom. A sexta praga, na visão de Guilherme Miller era compreendida como indicando o declínio do poder Turco que em seus dias (1836) já se fazia sentir, o que parecia preparar o caminho para os reis que vinham para o conflito final na Palestina.
Josias Litch adotava uma abordagem futurista colocando as pragas após o segundo advento e cria na secagem literal do rio Eufrates. Até 1850 pouco foi publicado entre os adventistas sobre o assunto. Em 1852 a Review and Herald publicou um artigo de G. W. Holt onde ele argumentava que as pragas eram “reais e literais”. R. F. Cotrell corroborou com essa idéia num artigo publicado na mesma editora em 1853. Urias Smith, numa série intitulada Reflexões Sobre o Apocalipse identificou a secagem simbólica do rio Eufrates, na edição de 02/12/1862, como sendo a extinção do império Otomano. Prelúdio necessário para a deflagração da batalha do Armagedom que se desencadearia em Jerusalém, então dominada pelos Turcos. Somente em 1862 Thiago White emitiu uma opinião mais abalizada do tema quando escreveu que “A grande batalha não ocorre entre nações, mas entre a terra e o céu” .

Análise do texto

A expressão "então, vi" em Apoc. 16:13 indica uma quebra de pensamento em relação ao verso anterior. Não há uma seqüência cronológica (de 12 a 13). Os que julgam que o verso 13 segue-se cronologicamente ao verso 12 estão fechando as portas para a correta interpretação deste texto. O verso 12 refere-se à sexta praga, e os versos 13 a 16 ocorrem antes da 6ª praga. Nem sempre os profetas descrevem os eventos cronologicamente. A palavra "então" mostra que é uma nova visão sobre algum evento passado. Se tudo o que está descrito nos versos 13 em diante acontece durante as seis pragas, ou mais especificamente, durante a sétima praga, então o conselho do verso 15 é dado muito tarde, porque durante as pragas, não há mais oportunidade – a porta já se fechou. E o verso 15 refere-se ainda ao tempo da graça, portanto, refere-se a um tempo anterior ao verso 12.
Apoc. 16:13 revela-nos que três poderes espirituais darão início a esta guerra final, e que Satanás está por trás destes poderes. Sabemos que a besta representa o romanismo; o falso profeta representa o protestantismo apostatado; e o dragão representa o espiritismo.
De acordo com este texto, os sinais e prodígios têm objetivo de unir as igrejas caídas com os Estados – unir os reinos do mundo numa só confederação. Portanto, torna-se claro que não somente os reis do Oriente vão se unir, mas os de toda a Terra. Reis simbolizam poderes políticos – todas as nações serão reunidas. Mais que uma reunião política, ecumênica, estrutural ou orgânica; esta coligação se dá no campo conceitual, ideológico e social, com um pano de fundo espiritual. As hostes do mal é que fomentam esta tríplice aliança. Não há qualquer indício de que seja uma guerra entre nações do Oriente e do Ocidente.
Quem é que ajunta as nações? Em Joel 3:2 lemos que Deus faz este ajuntamento, mas agora parece que os três espíritos imundos o fazem. Há uma aparente contradição, mas a verdade é que Deus permite que os demônios façam este trabalho, mas estabelece limites. Em Sua providência, Deus incorpora este plano maligno em Seu plano mais amplo para vindicar o Seu caráter. Deus jamais ordenou que o pecado viesse a existir, no entanto, toma sobre Si a responsabilidade de resolver este problema do pecado de tal modo que a responsabilidade final é Sua.
Deus está supervisionando tudo. Todos estes poderes rebeldes se ajuntarão no lugar que em hebraico se chama Armagedom. O termo Armagedom não aparece no Velho Testamento. Estudiosos concordam que o Armagedom identifica-se com Joel 3, onde o lugar em que estão os ímpios é chamado Vale de Josafá.
O Monte de Sião é mundial, portanto o Armagedom também será mundial. Já no Velho Testamento havia esta interpretação universal, mesmo quando o mundo era centralizado na Palestina. Alguns pensam que a guerra do Armagedom é entre o bloco Oriental e o Ocidental, lutando por causa do petróleo. Nesta interpretação, Deus foi tirado do centro; Cristo foi esquecido, a Igreja e o sábado nada têm que ver com a batalha. Joel 3 e Apocalipse 16 nos esclarece que a guerra final é contra Jeová e Seu povo. Para compreendermos o Armagedom devemos olhar para Joel 3, onde é explicado a real natureza desta batalha. Também podemos olhar para o Salmo 2, Ezequiel 38 e 39, ou Zacarias 12 e 14, e também Daniel 11:40-45 e cap. 12:1 e 2.
Oriente e Ocidente estará unido. O conceito de uma divisão entre Oriente e Ocidente não é bíblico, é uma falsa doutrina. O clímax está no versículo 14 – Todos os poderes políticos se unirão para fazer guerra – não guerra entre elas, pois isto eles fazem no presente – mas "pelejarão eles contra o Cordeiro". Isto é Armagedom – a Besta contra o Cordeiro.
Apoc. 19:11-21 é a melhor descrição do Armagedom. É uma aplicação maior de Apoc. 12, 13, 14, 16, 17 e também de Gên. 3:15 e de todos os textos apocalípticos do Velho Testamento. O verso 14 diz: "e seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos..." Este exército que segue o Rei é um dos partidos na guerra. Há, portanto, exércitos celestes, montados em cavalos brancos. É por isso que Joel orava: "Senhor, manda os teus guerreiros." Todo o mundo estará unido em rebelião a este governo. Cristo é o único Governante Supremo.
Concluímos, portanto, que a 6ª e a 7ª pragas formam uma só unidade. O Armagedom é descrito na sexta praga, mas acontece durante a sétima. Não podemos estudar a sétima praga isolada da sexta. A sexta e a sétima pragas são dois aspectos de um só evento. Lemos que durante a sexta praga haverá o secamento do rio Eufrates e que durante a sétima praga Babilônia cairá. Devemos considerar estes dois eventos como um só conjunto.
No Velho Testamento, o rio Eufrates determinava os limites de Israel (Gên. 15:18; 17:8). Ao norte do Eufrates viviam os inimigos de Israel que, sempre invadiam a Palestina. Poeticamente, os profetas poderiam descrever esses inimigos que viviam além do Eufrates como se fosse um trasbordamento do rio Eufrates, uma enchente que atingisse as pessoas até o pescoço (Isa. 8:7, 8 – o contexto imediato é a luta entre Judá e Assíria). O Eufrates era um símbolo dos inimigos de Israel. Esse é o seu significado teológico: Eufrates = inimigos do povo de Deus. Isaías 8 nos ensina teologicamente que o Eufrates simboliza um inimigos hostil que ataca Israel. O Eufrates não representa um inimigo neutro, mas um que ataca e se intromete nos afazeres de Israel e no seu culto. Esta é a característica teológica do termo Eufrates.
Mas nas pragas, o rio Eufrates não deve ser relacionado com os turcos, e sim com Babilônia. Babilônia como um poder religioso aparece sobre muitas águas, que representam "povos, multidões, nações e línguas" (Apoc. 17:15). O Eufrates representa todas as nações do mundo que seguem a Babilônia e fazem a sua vontade. O secamento do rio Eufrates está explicado no verso 16. O verso 15 fala do rio que transborda e o v. 16 fala do secamento. Aí a situação está totalmente mudada. Primeiro, os reis estavam unidos à meretriz e agora passam a odiá-la. O amor torna-se ódio. Esse é o secamento do Eufrates.
Assim que os poderes políticos e civis começarem a obedecer a esse poder religioso, começará a perseguição ao fiel povo de Deus. E quando as multidões se rebelarem contra Babilônia, esta será destruída a começar de dentro. Este é o quadro apocalíptico do Velho Testamento. A espada de um irmão será contra o outro. Os líderes religiosos serão os primeiros a cair no Armagedom.
Aqueles que procuravam matar o povo de Deus, pensando ser esta a Sua vontade, vêem-se subitamente lutando contra Deus. Que terrível descoberta! Dirigem-se então aos seus líderes religiosos: "Por que vocês nos enganaram?" E levantam as suas espadas contra eles. Este é o real derramamento de sangue que ocorre no Armagedom. É desta forma que haverá um Armagedom literal. Haverá sangue sobre toda a Terra. As águas do Eufrates começam a afogar Babilônia religiosa. O caminho é preparado para os reis que vêm do Oriente Celestial.
Quem são esses reis? Os anjos e Cristo, o Rei dos reis. Portanto, Cristo é um Ciro Maior. Ele vem com muitos reis, e naquele grande exército podemos ver Elias, Moisés e todos os que foram ressuscitados. Enoque também estará lá. Os libertadores vêm do Céu. É por isso que nossos olhares devem dirigir-se ao oriente – não ao Oriente Médio, mas ao Oriente Celestial. A mensagem do Armagedom é uma mensagem de conforto, pois mostra o triunfo glorioso de Cristo e do Seu povo!

Conclusão

A natureza essencialmente espiritual desse conflito é confirmada pela participação nele, tanto de Cristo quanto do “dragão”, que é Satanás. Os dois grupos conflitantes serão definidos pelo seu relacionamento com os mandamentos de Deus e o “testemunho de Jesus” (Ap 12:17).
Longe de ser um mero conflito bélico-nuclear, o Armagedom será o confronto cósmico final entre as forças do bem e os poderes do mal, no qual será decidido para sempre quem é digno de adoração (comparar com 1Rs 18). Embora os ímpios se preparem belicamente para a batalha (Ap 16:14; ver também 20:7-9), cremos que os justos jamais assumirão uma postura de combatência militar (ver Mt 5:38-48, Rm 12:17-21). Nesse conflito espiritual (ver Ef 6:10-18), Cristo e os Seus anjos pelejarão em favor dos justos, triunfando definitivamente sobre Satanás e suas hostes (Ap 20:1-21:8).
“É à meia noite que Deus manifesta o Seu poder para o livramento de Seu povo. ... Os ímpios contemplam a cena com terror, ao passo que os justos vêem os sinais de seu livramento... Relâmpagos terríveis envolvem a terra num lençol de chamas. ... Demônios tremem enquanto homens clamam por misericórdia.” GC, 355, 356 Edição 2004.

“Os reis da Terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos, e todo escravo, e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos...”
Apoc. 6: 15-17