20/02/2011

PASSOS NA ELABORAÇÃO DE UMA MENSAGEM EXPOSITIVA - VI



Com esta postagem chegamos ao fim deste esboço, mas em breve teremos mais postagens sobre a arte de preparar e pregar sermões.

PASSO DE PESQUISA 4: A PROPOSIÇÃO

Envolve 3 elementos A proposição que é uma afirmação teológica(A.T.), a sentença transicional (S.T.) e a Palavra chave (P.C.).

(A.T.) Satanás irá tentar com astúcia à pessoa piedosa, para atingir seu objetivo.
(S.T.) Temos aqui três tipos (P.C.) de tentação destinados a nós derrubar.

Este parágrafo em Mateus deve realmente conter três tipos de tentação. Se não, o pregador está "inventando" um esboço ou escolheu a palavra chave errada. Estudando Mateus 4.1-11, vemos três tipos de tentação que freqüentemente nos acompanham. Aqui estão eles:

1. Tratar a fome espiritual com alimento material (vv. 3, 4);

2. Testar a capacidade de Deus com proezas sensacionais (w. 5-7); e

3. Trocar o domínio de Deus por força política (w. 8-10).

É possível ver claramente estas três tentações: (a) materialismo, (b) sensacionalismo e (c) autoritarismo. O Senhor nos ensina que cada tentação deve ser enfrentada e derrotada com a espada de dois gumes chamada Palavra de Deus.

Segue aqui outro exemplo para estudo, extraído de Atos 13.1-4. Esta
passagem extraordinária instruirá qualquer igreja em como ter uma mente missionária de forma concreta. Uma das maneiras mais seguras de a igreja ganhar uma mente missionária é enviar alguns de seus filhos e filhas aos campos de missões. Assim, criamos a seguinte proposição (A.T. + S.T. + P.C.):

(A.T.) Deus utiliza com freqüência a assembléia da igreja local para chamar seus missionários.
(S.T.) Há três ações (P.C.) eclesiásticas coletivas que Deus usa para chamar missionários.

Nossa afirmação teológica apresenta uma máxima, um princípio bíblico. Ela é curta, fácil de ser memorizada e reforçada pela sentença transicional, onde a pergunta "Como Deus os chama?" é respondida com a palavra chave: ações (eclesiásticas). A palavra chave me informa que o parágrafo da pregação tem em si três ações eclesiásticas coletivas, sendo que cada uma forma uma divisão principal da exposição. Cada divisão demonstrará como Deus chama seus missionários através da ação da igreja.

Lembre-se: o longo contato com o texto, através dos passos de pesquisa, deu ao expositor sensibilidade interna diante do conteúdo e estrutura centrais do parágrafo. Assim, surge o seguinte esboço. Observe que cada divisão principal é uma ação eclesiástica coletiva, conforme o texto registra.

1. Um reconhecimento consciente dos dons do Espírito (v. 1);

2. Uma adoração concentrada no Cristo ressurrecto (v. 2); e

3. Um compromisso perfeito de apoio aos missionários (vv. 3, 4).

Até aqui, alegorizamos, definimos e exemplificamos o que realmente é a proposição do sermão. Chegamos agora ao processo em que iremos extraí-la do parágrafo da pregação. Nunca é demais repetir: a total imersão intelectual, emocional e espiritual do expositor no parágrafo é absolutamente essencial. É neste envolvimento que o expositor descobre a idéia central Assim, as três experiências de pesquisa de familiarização, exegese e estudo bíblico indutivo são os fundamentos da descoberta de uma proposição exata e complemente representativa.

A proposição é realmente o produto final da estrutura sujeito-predicado do parágrafo da pregação. Há um sujeito principal no parágrafo que está sendo predicado. Então, o primeiro fato na formulação da proposição é a resposta a esta pergunta: "Qual é o sujeito deste parágrafo da Bíblia?" De que se está falando aqui?

O sujeito de qualquer sentença é um substantivo, uma frase substantiva ou um pronome que faz alguma coisa ou sobre o qual algo é dito (predicado). O parágrafo da pregação, sendo constituído de várias sentenças, normalmente terá uma série de sujeitos e verbos. O expositor sentirá como eles se inter-relacionam, quais são os principais e os secundários. Num parágrafo de pregação autônomo deve haver um sujeito e um predicado globais, em torno dos quais giram todos os sujeitos e predicados. Na passagem de Mateus 4.1-11, Satanás (o sujeito) tenta a Jesus (o predicado). 'A dinâmica na passagem mostra que este sujeito (Satanás) emprega artimanhas sutis para atingir seus propósitos perversos.

Uma das maneiras de se descobrir a essência da proposição é olhar para as frases chaves na seqüência do texto do parágrafo.

Palavras chave: (ex.)

abusos elos notas
acusações enredos nutrientes
afirmações erros objetivos
amostras exortações obrigações
armadilhas forças oportunidades
aspirações frutos paralisias
assassinos fugas pecados
barreiras gestos perguntas
batalhas gigantes provisões
buscas hábitos punições
características heresias reclamações
clamores ídolos refutações
classes ilusões sementes
condições impurezas tesouros
crenças errôneas juízes tiranos
defeitos luzes ultimatos
desvantagens mandamentos vantagens
dilemas máscaras venenos
direções mentiras viagens
disciplinas necessidades vontades


IV. OS QUATRO PASSOS DA COMPOSIÇÃO

PASSO DE COMPOSIÇÃO 1: AS DIVISÕES PRINCIPAIS
PASSO DE COMPOSIÇAO N.º 2: AS ILUSTRAÇÕES

PASSO DE COMPOSIÇÃO N.º 3: A CONCLUSÃO E A INTRODUÇÃO
PASSO DE COMPOSIÇÃO 4: O ESBOÇO DO SERMÃO

PASSOS NA ELABORAÇÃO DE UMA MENSAGEM EXPOSITIVA - V




PASSO DE PESQUISA 3: O ESTUDO INDUTIVO

3 PASSOS :

A Observação

A Interpretação . Este passo é conseguido fazendo-se perguntas ao parágrafo tais como: O que o autor do parágrafo diz sobre vida, Deus, humanidade, estruturas sociais, pecaminosidade, piedade, deveres, etc.? Como estas declarações se unem num tema básico? O que as figuras de linguagem (caso existam) dizem sobre o significado do tema? Quem é (são) a(s) pessoa(s) no texto? Por que certa palavra é usada apenas uma vez (ou repetida)? Quais ameaças ou promessas estão no texto? Quais são as implicações ou resultados das afirmações, súplicas ou ordens dadas no texto? Como o alinhamento dos fatos no texto causa impacto sobre o tema? Quando acontece o evento, ação ou afirmação? Quais palavras ou frases são difíceis de entender? O que torna obscura esta passagem? Há alguma coisa faltando que, caso fosse providenciada, esclareceria o texto? Que idéia(s) nos parágrafos anteriores e posteriores fazem um elo com o significado destas palavras ou frases obscuras ou difíceis?

A Aplicação .

FOLHA DE PESOUISA PARA O ESTUDO BÍBLICO INDUTIVO
TEXTO:

Perguntas de Fatos observados, interpretados e aplicados
Observação


Quem?
(Pessoas)
O que?
(Coisas)
Quando?
(Tempo)
Onde?
(Locais)

Perguntas de
Interpretação
Por que?
(Razões)
O que?
(Sentido ou
significado)
Por que?
(Importância)
O que?
(Exigências)

Perguntas de
Aplicação
Como?
(Como funciona?)
Quando?
(Quando aplico?)
Quem?
(Quem está incluído/
excluído?)
Por que?
(Por que os ouvintes
de hoje precisam disso?
O que?
(Que promessa pode ser
reivindicada agora? Que
mandamento deve ser
obedecido? Em favor de
que se deve orar? etc.)

QUAIS EVENTOS OU EXPERIÊNCIAS DO AT OU DO NT ILUSTRAM OU DEFINEM ESTAS IDÉIAS?

PASSOS NA ELABORAÇÃO DE UMA MENSAGEM EXPOSITIVA - IV




PASSO DE PESQUISA 2: A EXEGESE

1. Leia o texto em voz alta e em espírito de oração várias vezes (o grande pregador Dr. Campbell Morgan costumava ler pelo menos 50 vezes a passagem que ia expor), comparando-o com versões bíblicas diferentes para obter uma maior compreensão de seu conteúdo.
2. Reproduza o texto com suas próprias palavras, sem olhar na Bíblia, para verificar se realmente entendeu o conteúdo (Bezzel memorizava todos os textos sobre os quais pregava).
3. Observe o contexto imediato e o remoto (veja pp. 38ss.).
4. Verifique a forma literária do texto (história, milagre, parábola, ensino, advertência, promessa, profecia, testemunho, oração, introdução etc.) e tente estruturá-lo (e. g., Ef 1.1-2; 15-23; Lc 4.38-39).
5. Determine o significado exato de cada palavra básica, com sua origem e seu uso pelo autor e no restante do testemunho bíblico (e. g., Rm 3.21-31; 5.1).
6. Anote peculiaridades do texto (palavras que se repetem, contrastes, seqüências, conclusões, perguntas, teses) e faça uma comparação sinótica, caso o texto pertença aos evangelhos (veja pp. 35-36).
7. Pesquise as circunstâncias históricas e culturais (época, país, povo, costumes, tradição; e. g., Ap 19.15).
8. Elabore as mensagens de cada versículo ou termo principal por meio de versículos paralelos (em palavras e assuntos), de seu núcleo, de sua relação com a história da salvação, de perguntas didáticas (quem, o que, por que etc.) e de comentários bíblicos, léxicos, dicionários e manuais bíblicos (e. g., Mt 12.38-42).
9. Estruture o texto conforme seu conteúdo principal e organizador e suas seções secundárias (e. g., Lc 19.1-10).
10. Resuma o trabalho exegético feito até este ponto com a frase: O assunto mais importante deste texto é...


Exemplo 1: Mateus 9.9-13
1. Após ter lido o texto várias vezes e comparado suas palavras com versões bíblicas diferentes, resuma a impressão geral do trecho.
2. Qual o contexto dessa passagem?
a. contexto imediato de Mateus 9
b. contexto do evangelho de Mateus (os capítulos anteriores e posteriores)
c. contexto remoto do livro inteiro (a estrutura do evangelho de Mateus)
3. Como esse texto poderia ser estruturado?
4. Faça uma comparação textual com várias versões bíblicas, anotando as diferenças.
5. Faça uma comparação sinótica desse texto para descobrir a cronologia dos acontecimentos, o material peculiar e os trechos omissos de cada um dos evangelistas.
a. o material peculiar de Mateus
b. o de Marcos
c. o de Lucas
d. o material omisso de Mateus
e. o de Marcos
f. o de Lucas
g. a cronologia sinótica
h. resumo em uma só versão
6. Explique os costumes alfandegários romanos.
7. Qual era a relação entre judeus em geral e os publicanos e pecadores?
8. Qual era a atitude de João Batista frente aos publicanos e pecadores?
9. Como Jesus Se relacionava com os publicanos e os pecadores?
10. Quem eram os fariseus (origem, atitudes, crenças, posição)?
11. Por que os fariseus opuseram-se a Jesus (v. 11)?
12. Fale sobre Cafarnaum (lugar, origem, significado, tamanho, importância).
13. Quem era Mateus (ou Levi; ligações familiares, profissão, religião, características, menção nos evangelhos)?
14. No versículo 9, qual o significado do verbo ver, empregado por Jesus, em relação à vocação de Mateus? Será que os autores dos demais evangelhos usam esse verbo em outras circunstâncias?
15. Quais as conseqüências implícitas do ato de seguir a Jesus?
a. conforme Lc 5.28
b. conforme Mt 19.21
c. conforme Lc 19.1-10
16. Segundo os versículos 10 e 11, quais os motivos de Mateus ao convidar Jesus à sua própria casa?
17. Por que os judeus consideravam os publicanos e pecadores indivíduos de segunda classe?
18. O que significa a frase: ... come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?
19. Como Jesus descreve Sua missão nos versículos 12 e 13, e qual seu significado?
20. Por que Jesus citou Oséias 6.6?
21. Quais as diferenças entre Oséias 6.6 e sua citação feita por Jesus?
22. Em que e por que revela-se na ação de Jesus a misericórdia divina?
23. Quais as implicações do fato de chamar os pecadores?
24. Será que os fortes e justos não precisam da misericórdia divina? (Consulte alguns comentários.)
25. Qual a origem, o significado e o uso do termo bíblico misericórdia? (Consulte o NDB, o NDITNT e o NTI.)

Exemplo 2: Mateus 8.1-4
Use as dez regras didáticas expostas anteriormente para elaborar esta exegese.
1. Em espírito de oração, leia o texto em voz alta diversas vezes. Em seguida, anote o primeiro impacto que a passagem causou em você.
2. Agora, repita o texto com suas próprias palavras, sem olhar na Bíblia, para verificar se realmente compreendeu seu conteúdo.
3. Observe os contextos imediato e remoto.
4. Verifique a forma literária do texto e tente estruturá-lo.
5. Determine o significado exato de cada palavra básica, assim como sua origem e seu uso na Bíblia.
6. Anote as peculiaridades do texto (palavras que se repetem, contrastes, seqüências, conclusões, perguntas, teses) e faça uma comparação sinóptica com Marcos 1.40-45 e com Lucas 5.12-16.
7. Pesquise as circunstâncias históricas e culturais (época, país, povo, costumes, tradições) desse texto.
a. O que era a lepra na época neotestamentária?
b. Qual a função do sacerdote com respeito à lepra?
c. Qual a responsabilidade do sacerdote num caso de cura da lepra?
d. Que povo presenciou o milagre da cura de um leproso?
8. Desenvolva o significado de cada versículo ou tema principal.
v. 1: "seguiram"
a. O que significa o verbo "seguir" no Novo Testamento?
b. O que significa o verbo "seguir" aqui?
v. 2: "eis"
a. Como o Novo Testamento emprega esse termo?
b. Qual seu significado aqui?
v. 2: "adorou-o"
a. Qual o significado do verbo "adorar" na Bíblia?
b. Como se deve adorar? (Consulte dicionários e comentários bíblicos, a chave bíblica e a BVN.)
c. Que atitude é expressa na adoração?
v. 2: "se quiseres"
a. O que o leproso quis dizer com essa frase?
v. 2: "purificar-me"
a. Qual o significado da purificação na Bíblia?
b. Qual a importância da purificação na lei de Moisés?
c. Por que o leproso desejava ser purificado?
v. 3: "tocou-lhe"
a. Que atitude de Jesus é expressa por esse verbo?
b. Qual o significado desse verbo para o leproso?
v. 3: "quero"
a. O que Jesus quer?
b. Qual é a vontade de Jesus?
v. 3: "imediatamente"
a. Qual o significado dessa palavra?
b. Quantas vezes aparece no evangelho de Mateus?
v. 4: "não digas a ninguém"
a. Por que Jesus fez essa proibição?
b. Isso acontece em outras ocasiões no Novo Testamento?
v. 4: "fazer a oferta"
a. Por que esta oferta é necessária?
b. Qual sua finalidade?
c. Será que o Novo Testamento também relata esse costume em outras partes?
9. Estruture o texto conforme seu conteúdo principal e organizador e de acordo com as seções secundárias.
a. O leproso pede ajuda:
_ ele se prostra diante de Jesus
_ ele confia na vontade e no poder de Jesus
b. Jesus concede a cura:
_ Ele toca o leproso
_ Ele cura o leproso
_ Ele envia o leproso ao sacerdote
10. Resuma o trabalho exegético desenvolvido até aqui com a seguinte frase: O assunto principal desta passagem é... (ou esse texto fala sobre... )

Os passos da metodologia da exegese lingüístico-gramatical são os seguintes:
a. Traduzimos o texto de seu original hebraico ou grego.
b. Definimos os termos principais de um texto (e. g., Rm 3.21-31) com a ajuda de um dicionário hebraico ou grego juntamente com o NDITNT, para compreendermos sua origem, seu desenvolvimento, seu uso e seu significado bíblico e cultural.
c. Comparamos algumas versões e traduções diferentes (ARA, ARC, EIBB, BLH, BJ).
d. Subdividimos as orações em seus componentes: sujeito, objeto, expressão principal, adjuntos adverbiais, frases secundárias; então, verificamos como cada um se relaciona com o restante do versículo.
e. Observamos as particularidades do texto: repetições de palavras, contrastes, interrogações, conseqüências, afirmações etc.
f. Diferenciamos os substantivos dos verbos, advérbios e pronomes; a voz passiva da ativa; o subjuntivo do indicativo etc., para obtermos uma compreensão maior

A metodologia da exegese histórico-cultural segue os seguintes passos:
a. Esclarecemos o pano de fundo histórico (e. g., de uma carta neotestamentária ou de um livro profético do Antigo Testamento).
b. Traçamos as conexões históricas será que o texto relaciona-se com acontecimentos anteriores?
c. Definimos o lugar e a época do fato.
d. Explicamos as tradições e os costumes (e. g., Mt 3.12; Ap 19.15).
e. Observamos a situação geográfica (e. g., Mc 5.20).

A tarefa da exegese teológico-pneumatológica é analisar os termos do texto da maneira teológica, bíblica, espiritual e doutrinária.
As perguntas-chave na exegese teológico-pneumatológica são:
a. Qual o ensino ou mensagem desta frase ou versículo?
b. Quais são as referências bíblicas que apóiam ou confirmam este ensino ou princípio?
c. Quais as afirmações bíblicas que explicam melhor o significado deste ensino?
d. O que Deus deseja expressar aqui?
Na exegese teológico-pneumatológica, o exegeta depende da operação e direção do Espírito Santo. A mensagem é descoberta pelo Espírito Santo, que nos ilumina (1 Co 2.12-13).
A metodologia usada pela exegese teológico-pneumatológica é a seguinte:
a. Esclarecemos os termos principais em relação ao testemunho inteiro das Escrituras.
b. Determinamos o cerne do versículo.
c. Observamos o indicativo da atuação divina.
d. Correlacionamos o texto com a mensagem cristológica (o Cristo prometido, encarnado, crucificado, morto, ressurreto, glorificado, exaltado, presente, que vem outra vez, consumador, rei, sacerdote, profeta).
e. Definimos a finalidade prática do versículo.