26/08/2013




ESTUDOS EM DANIEL - I

Material do Pr. João Antônio R. Alves

INTERPRETAÇÃO DA PROFECIA

Entre os intérpretes das profecias de Daniel há considerável desacordo sobre como a tarefa de interpretar a profecia deveria ser realizada.  Existem três escolas básicas de pensamento:

1.      Preterista – coloca o cumprimento de todas as profecias de Daniel no passado, finalizando com o segundo século a.C.  Neste caso, nenhuma das profecias se estenderia até Roma ou além.
2.      Futurista – considera muito da seção profética como ainda futura e não cumprida.  Os intérpretes futuristas começam no passado, começando as profecias de Daniel com a seqüência histórica de Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma.  Mas então eles saltam toda a era cristã e colocam o principal cumprimento da maioria destas profecias nos últimos sete anos da história terrestre.
3.      Historicista – interpreta as profecias de Daniel como sendo cumpridas através da história, estendendo-se desde o passado, passando pelo presente e chegando ao futuro.  Por causa do fluxo da história que está envolvido nesta visão, é algumas vezes chamado a visão “contínuo-histórica”.

Exemplos:

REINOS


Escola de interpretação
Ouro/leão
Prata/urso
Bronze/leopardo
Ferro/animal terrível / espantoso
Preterista
Babilônia
Média
Pérsia
Grécia
Futurista
Babilônia
Medo-Pérsia
Grécia
Roma
Historicista
Babilônia
Medo-Pérsia
Grécia
Roma

PONTA PEQUENA

Escola de Interpretação

Preterista
Antíoco
Futurista
Anticristo pessoal
Historicista
Roma – fase religiosa


TEMPO PROFÉTICO

Escola de Interpretação

Preterista
Literal
Futurista
Literal
Historicista
Simbólico

Shea, 2:41 - A Ponta Pequena é melhor identificada com Roma.  Se esta identificação é correta, então os tempos proféticos associados com as atividades do chifre pequeno também deveriam se encaixar com os períodos de tempo cobertos por Roma.  A Roma imperial durou um número de séculos, e a Roma papal continuou através da Idade Média.  Tomado em termos de tempo literal, os períodos proféticos de Daniel não cobririam mesmo uma pequena porção daquela história.  Esta correlação indica que os períodos proféticos deveriam ser interpretados como tempo simbólico em harmonia com seus contextos.

            Os comentaristas preteristas e futuristas, no entanto, sustentam que estes períodos de tempo deveriam ser tomados como tempo literal – com a exceção de algumas referências em Daniel 9.  Os preteristas, naturalmente, situam o tempo literal no passado, enquanto os futuristas o situam no futuro.  Os historicistas, por outro lado, interpretam estes períodos proféticos como tempo simbólico, cumprido... através do curso de séculos de história.

Que evidências há de que estes tempos proféticos deveriam ser entendidos simbolicamente?  E se eles devem ser assim interpretados, que regras de interpretação deveriam ser seguidas?

            A primeira característica destes períodos de tempo que apontam para sua natureza simbólica é seu contexto simbólico. Por exemplo, as 2300 tardes e manhãs são encontradas na visão de Daniel 8 em um contexto contendo vários outros símbolos tais como um carneiro, um bode, quatro chifres e um chifre pequeno.

            Em Daniel 7:21, o profeta diz, “Eu olhava e este chifre [o chifre pequeno] fazia guerra contra os santos, e prevalecia contra eles”.  Esta é claramente uma imagem simbólica.  O v. 25 indica por quanto tempo continuaria esta perseguição do povo de Deus [“um tempo, tempos e metade de um tempo”].  Dado que todo o contexto do que é dito sobre este poder perseguidor é simbólico, parece lógico que os períodos de tempo referidos semelhantemente seriam simbólicos.

            O fato de que estes períodos de tempo proféticos deveriam ser entendidos simbolicamente também é indicado pela natureza simbólica das unidades em que eles são dados.  Daniel 8:14 usa “tardes e manhãs” que não é uma unidade normal para se expressar tempo no AT.  Similarmente, o “tempo, tempos e metade de um tempo” de Daniel 7:25; 12:7 não é a palavra para “anos”.  Estes tempos devem ser interpretados como anos por meio de 4:16, 23, 25, 32 juntamente com Apocalipse 12:6, 14; 13:5.  Novamente, no capítulo 9, a unidade de tempo é “semanas” (vv. 24-27), muito embora, como o conteúdo da profecia revela, estas não sejam semanas normais de sete dias de vinte e quatro horas.

            Outro ponto a notar é que os períodos de tempo são expressos em quantidades que enfatizam sua natureza simbólica. Um hebreu normalmente não dataria algum evento como estando 2300 dias no futuro.  Ele diria seis anos e quatro meses.  Tampouco dataria alguma coisa referindo-se a setenta semanas.  Em vez disto, ele diria um ano, quatro meses e meio.  Os 1260 dias, os 1290 dias, e os 1335 dias teriam sido comumente referidos como três anos e meio, três anos e sete meses, ou três anos e oito meses e meio.

            Todas estas considerações indicam que não estamos lidando com tempo literal nas porções proféticas de Daniel, mas com tempo simbólico.

            Se isto é assim, por qual padrão deveríamos avaliar estes tempos simbólicos em termos de tempo histórico real?  Isto nos leva à regra profética  dia-por-um-ano.  É encontrada primeiramente em Números 14:34 e Ezequiel 4:6 – duas profecias clássicas, não apocalípticas.  Números 14:34 estabelece uma regra para ser utilizada como uma base para o futuro juízo de Israel.  Os quarenta dias gastos em espiar a terra... proveram uma escala para os quarenta anos durante os quais os israelitas vagueariam pelo deserto.

            Em Ezequiel 4:6, o profeta deveria simbolizar os anos passados de iniquidade em Israel e Judá por permanecer sobre o seu lado por um correspondente número de dias sobre a base da regra ano-por-un-dia.  Assim Ezequiel, que profetizou ao mesmo tempo que Daniel, conhecia e usava esta regra concernente ao tempo profético.

            Há também evidência no próprio livro de Daniel de que esta regra dia-por-um-ano deveria ser utilizada em suas profecias temporais.  Daniel 9:24-27 se refere a um período profético de setenta semanas.  Por causa de todos os eventos que deveriam ocorrer dentro destas setenta semanas, está claro que elas devem ser entendidas simbolicamente. 
Dentro destas setenta semanas Judá deveria retornar para a sua própria terra e reconstruir Jerusalém e o templo.  Então, algum tempo depois dentro deste período de tempo, o Messias viria e ministraria ao povo, mas seria cortado, ou morto.  Obviamente, tudo isto não poderia ter sido cumprido em um ano e meio literal.  Estas “semanas” devem ser simbólicas.

            O teste pragmático da história mostra que a unidade simbólica de uma semana é equivalente a sete anos literais – um dia por um ano.  Usando este padrão, os eventos desta profecia se cumprem corretamente.  O período deveria começar com a emissão “do decreto para restaurar e reedificar Jerusalém” (v. 25) e findar com o Messias confirmando o concerto com muitos (v. 27).  Jerusalém seria restaurada ao final dos sete “setes” ou semanas (v. 25) e o Messias viria sessenta e dois “setes” mais tarde (v. 26).  Se usamos a regra de um dia por um ano e começamos as setenta semanas (ou 490 anos) em 457 a.C quando Artaxerxes emitiu um decreto que resultou na reconstrução de Jerusalém, todas as datas preditas se encaixam com o período de tempo findando em 34 AD. 

            Embora tanto os preteristas como os futuristas creiam que os períodos de tempo profético de Daniel são literais antes que simbólicos, eles implicitamente reconhecem a validade da regra ano-por-um-dia quando chegam às setenta semanas no capítulo 9.  Eles não usam as datas específicas dadas acima (457 a.C e 34 AD), mas tampouco tentam encaixar a profecia em setenta semanas literais – mais ou menos um ano e meio.  Os futuristas freqüentemente datam o começo do período ao redor de 444 a.C. e finalizam a sexagésima nona semana com uma data para a crucifixão de Cristo em 33 ou 34 AD.  Os preteristas começam as setenta semanas em 593 a.C. e o trazem ao tempo de Antíoco Epifanio c. 165 a.C.  Mas apesar de tais variações, ambos futuristas e preteristas comumente interpretam as setenta semanas em Daniel 9 como se referindo a um período de tempo que claramente se estende muito além de “setenta semanas” literais, assim implicitamente admitindo que a regra ano-por-um-dia tem valor pelo menos para este período de tempo profético.

            O capítulo 11 de Daniel consiste de informação profética adicional dada a Daniel pelo anjo Gabriel, baseada sobre a visão anterior dada no capítulo 8.  O capítulo 8 provê os símbolos, e o capítulo 11 provê sua interpretação literal.  Este fato nos oferece uma razão adicional para ver os períodos de tempo profético em Daniel como simbólico.  Por exemplo, no cap. 8 Daniel vê entidades simbólicas (reinos), mas no capítulo 11 estes são apresentados como pessoas literais (reis individuais). No capítulo 8, Daniel vê ações simbólicas ocorrendo (estrelas sendo lançadas por terra, etc.); no capítulo 11, temos ações literais (batalhas reconhecíveis).  E no capítulo 8 a Daniel é dado períodos de tempo simbólico (tardes-manhãs); no capítulo 11 encontramos tempo literal (anos).

Por exemplo, no cap. 11, os versos 6, 8 e 13 referem-se a “anos”.  Em cada caso, esses anos medem (embora sem especificar um número particular) algumas das atividades dos reis gregos no Egito (os Ptolomeus) ou na Síria (os Selêucidas).  Esses reis gregos pertencem ao período de tempo coberto pelos quatro chifres que surgiram da cabeça do bode (8:22).  Este mesmo período de tempo do bode e seus quatro chifres é também coberto por algumas das 2300 tardes-manhãs (8:14).  Assim, quando utilizamos o capítulo 11 para interpretar o capítulo 8, encontramos que as tardes-manhãs no capítulo 8 correspondem a anos literais, históricos, no cap. 11.  Está claro, então, que o período de tempo no cap. 8, as 2300 tardes-manhãs, devem ser simbólicas.  Se elas fossem tempo literal, se estenderiam por aproximadamente seis anos e meio – sem tempo suficiente para englobar as atividades apresentadas como sua contraparte no cap. 11.  Assim o próprio livro de Daniel ensina o princípio dia-ano.

A PONTA (CHIFRE) PEQUENA

Preteristas – Antíoco
Futuristas – futuro anticristo
Historicistas – Roma

Argumentos em favor de Antíoco IV Epifânio como a ponta pequena


1.      Antíoco foi um rei selêucida.  Como membro desta dinastia de reis, ele pode haver surgido de um dos quatro chifres mencionados em Daniel 8:8 – sempre que esta fosse a origem da ponta pequena.
2.      A sucessão de Antíoco foi irregular.  Se a frase “não por sua própria força”, ao começo de Daniel 8:24 é original no TM, isto sugeriria que, historicamente falando, a ponta pequena chegou ao poder através de uma sucessão irregular.

Um filho de Seleuco IV Filopáter devia haver sucedido ao governante depois que o cortesão Heliodoro assassinou a seu pai.  Não obstante, o irmão do rei, Antíoco IV, chegou ao trono em seu lugar ajudado pelos exércitos de Pérgamo.  É possível aplicar a frase “mas não por sua própria força” a este rumo dos acontecimentos.

3.      Antíoco perseguiu aos judeus.

4.      Antíoco contaminou o templo de Jerusalém e interrompeu seus serviços.  Entretanto,  resta ver se com efeito ele fez contra o templo todas as coisas que Daniel 8 diz que a ponta pequena fez.

Portanto, existem dois argumentos razoavelmente claros em favor da identificação da ponta pequena como Antíoco IV: sua sucessão irregular e sua perseguição dos judeus.  Existem outros dois argumentos que possivelmente poderiam apoiar esta identificação, mas devem ser limitados até certo ponto.  Estes têm que ver com sua origem e com a contaminação do templo.  A questão aqui é se estes quatro pontos, dois razoavelmente poderosos e dois limitados, provêem uma base sólida para fazer esta identificação.  Do outro lado desta questão existe uma quantidade de argumentos de Daniel 8 contrária a identificar a Antíoco IV com a ponta pequena.

 Argumentos contra Antíoco IV como a ponta pequena

1.      Natureza da ponta pequena: um reino
a.      A ponta pequena como um símbolo para rei/reino.  Daniel 8:23 identifica a ponta pequena como um “rei”.  Porém a questão que pode surgir é se o termo não tinha o propósito de significar um “reino” antes que um “rei” em particular.  Diversos pontos sugerem esta possibilidade.  Dado que os quatro chifres precedentes são identificados como reinos no verso 22, se poderia esperar foram sucedidos por outro reino antes que por um rei individual.  Os dois chifres que aparecem sobre a cabeça do carneiro persa representavam os “reis da Média e da Pérsia” (v. 20); quer dizer, as casas dinásticas que governaram estas nações.

Voltando ao capítulo 7, a interpretação historicista do chifre pequeno sugere que este representa ao papado, que surgiu entre os chifres-nações da Europa, os quais resultaram do quebrantamento da besta-império romana.  Também se deveria notar que se bem no cap. 7 os quatro animais se referiam a “quatro reis” (v. 17), foram entendidas como representando reinos e não monarcas individuais (v. 23).  O mesmo conceito é evidente previamente no cap. 2, onde se disse a Nabucodonozor que ele era a cabeça de ouro que seria sucedido por outro reino (Dn 2:38, 39).

O único lugar entre estes símbolos onde se pode apontar claramente a identificação de um chifre como um rei individual é no caso de Alexandre, representado pelo grande chifre do bode grego (Dn 8:21).  Obviamente, o chifre de Alexandre não surgiu dos outros quatro do bode.  Se o chifre pequeno de Daniel 8 saiu de outro chifre e é interpretado como um rei, tal interpretação resultaria única entre esta série de símbolos.  Ainda que este detalhe não é definitivo quando estudado isoladamente, parece mais razoável supor que o chifre pequeno representa um reino corporativo antes que um rei individual.

2.      Grandeza comparativa da ponta pequena.
O carneiro persa “se engrandecia” (8:4); o bode grego “se engrandeceu sobremaneira” (v. 8).  Por contraste, o chifre pequeno se engrandeceu extremamente em diferentes direções.  No nível horizontal “cresceu muito” rumo ao sul, o oriente e a terra gloriosa.  No plano vertical “se engrandeceu até o exército do céu”, e finalmente “se engrandeceu contra o príncipe dos exércitos” (8:9-11).

O verbo “engrandecer”,  gadal, aparece somente uma vez em relação com a Pérsia e só uma vez com a Grécia, porém aparece três vezes com o chifre pequeno.  Em vista deste uso verbal, e do advérbio para “sobremaneira” que o acompanha na primeira INSTANCIA,  é evidente que esta é uma progressão do comparativo ao superlativo.  Transferindo isto em termos históricos, significa que Antíoco IV deveria exceder em grandeza ao Império Persa e ao Grego.  Obviamente, isto não foi assim, dado que ele governou somente uma parte do Império Grego e com pouco êxito.

Este argumento encontra um apoio adicional quando regressamos ao paralelismo do chifre pequeno de Daniel 7.  Ali descobrimos outro detalhe que milita contra a identificação do chifre pequeno com Antíoco IV: a cena de juízo.  Parece improvável que a corte celestial fosse convocada em sessão em tão grandiosa escala com o propósito de julgar a Antíoco IV.  Um ambiente muito menos fascinante, tal como a predição de Micaías filho de Imla, concernente a Acab, em 1 Reis 22, deveria haver sido adequado para Antíoco IV.  Em outras palavras, por causa de sua grandeza, a visão da sessão da corte celestial em Daniel 7 não faria jogo com a importância política e religiosa de quem estava sendo julgado ali, se é que o chifre pequeno fosse Antíoco.  Dado o paralelismo entre os chifres pequenos de Daniel 7 e 8, isto simplesmente enfatiza a disparidade entre Antíoco IV e a grandeza superlativa do chifre pequeno de Daniel 8.

3.      Atividades do chifre pequeno.
a.      Conquistas.  O chifre “cresceu muito para o sul, o oriente e a terra gloriosa” (v. 9).
(1)    Para o sul.  Antíoco III foi o rei que agregou a Palestina ao território governado pelos selêucidas quando derrotou as forças de Ptolomeu em Panéias, em 198 a.C.  Antíoco IV tentou estender sua fronteira sul até o Egito com a campanha de 170-168 a.C.  Teve êxito ao conquistar a maior parte do Delta em 169 a.C.  No ano seguinte marchou sobre Alexandria para empreender o seu sítio, porém teve que regressar por ordem de um embaixador romano, e assim abandonou suas pretensões de conquista no Egito.  De maneira que seu êxito parcial no Egito foi transitório, e é duvidoso que na realidade crescesse “muito para o sul”.
(2)    Para o oriente.  Antíoco III subjugou o oriente em suas campanhas de 210-206 a.C., que o levaram até a fronteira da India.  Entretanto, depois que os romanos o derrotaram em Magnésia, a maioria dos territórios envolvidos se rebelaram e se tornaram independentes.
Antíoco IV tentou reconquistar algo deste território nos últimos anos de seu reinado.  Não obstante, depois de alguns êxitos diplomáticos e militares iniciais na Armênia e Média, se viu impossibilitado de avançar contra os partos.  Morreu no curso de sua campanha contra estes últimos, aparentemente de causas naturais, no inverno de 164/3 a.C.
Enquanto Antíoco IV teve alguns êxitos iniciais, não conseguiu nem de perto tanto como Antíoco III; e esse projeto ficou incompleto no momento de sua morte.  Portanto, é pertinente perguntar se a extensão destes êxitos militares parciais e incompletos se encaixaria com a predição profética concernente ao chifre pequeno como “crescendo excessivamente para o oriente”.
(3)    Para a terra gloriosa.  Em 1 Mac 1-6 se menciona a Antíoco IV como o governante selêucida que profanou o templo e perseguiu aos judeus.  Isto não ocorreu por causa de alguma conquista própria, e sim porque Antíoco III já havia conquistado a Palestina aos Ptolomeus em 198 a.C.  Ele não podia haver “crescido excessivamente para a terra gloriosa”, presumivelmente Judéia, em algum sentido de conquista o adquirindo controle sobre ela através de uma ação militar.  Somente pôde haver “[crescido] excessivamente” no sentido de exercer ou abusar de seu controle sobre ela, uma vez que já era parte de seu reino quando ascendeu ao trono.
Ainda que Antíoco IV não foi o conquistador da Palestina, as derrotas sofridas aí perto do final de seu reinado resultou na independência da Judéia do domínio selêucida.  Para o fim de 164 a.C. os judeus libertaram o templo contaminado das mãos dos selêucidas e o rededicaram (1 Mac 5:52).  Antíoco morreu no Oriente pouco tempo depois, ao princípio de 163 a.C. (1 Mac 6:15).
(4)    Resumo.  Antíoco IV nunca capturou Alexandria, a capital do Egito, porém desfrutou de êxitos militares no Baixo Egito durante sua campanha de 169-167 a.C.  Entretanto, teve que abandonar suas pretensões no Egito por causa da pressão diplomática de Roma.  Só a primeira parte de sua campanha para o oriente foi exitosa.  Morreu antes de haver realizado seus planos para essa região e consolidar seu controle sobre ela.
Ainda que afligiu mais duramente aos judeus que seus predecessores, não foi ele quem anexou Judéia ao império selêucida, dado que já era parte desse domíno quando ascendeu ao trono.  As três derrotas sofridas ali por suas tropas, pouco tempo antes de que morresse, iniciaram um processo que resultou na independência da Judéia.
As três conquistas de Antíoco IV nestas três esferas geográficas foram insignificantes e inclusive negativas, em alguns casos.  De maneira que não se ajusta bem às especificações da profecia, a qual declara que o chifre pequeno “cresceu muito para o sul, para o oriente, e para a terra gloriosa”.
b.      Atividades antitemplo. 

4.      Fatores de tempo para o chifre pequeno.
a.      Tempo de origem.  O surgimento da ponta pequena está datado desde o ponto de vista dos quatro reinos que saíram do império de Alexandre.  Devia surgir “no fim do reinado” deles (8:23).
A dinastia selêucida esteve composta de uma lista de mais de 20 reis que governaram desde 311 até 65 a.C.  Antíoco IV foi o oitavo na lista, e governou desde 175 a 164/3 a.C.  Uma vez que mais de uma dúzia de selêucidas governaram depois dele, e menos de uma dúzia governaram antes dele, dificilmente se pode dizer dele que surgiu “no fim do reinado”  deles.
Seria mais correto fixar o período de seu governo na metade da dinastia; e a cronologia apoia este argumento.  Os selêucidas governaram por um século e um terço antes de Antíoco IV e um século depois dele.  Este fato coloca a este governante particular a duas décadas do ponto médio da dinastia.  Desta maneira, Antíoco IV não surgiu “no fim do reinado”.
b.      Duração.  Os dados cronológicos dados na pergunta e a resposta de Daniel 8:13, 14, hão sido interpretados como a duração da profanação do templo ou a perseguição dos judeus.  Dispomos de dados precisos para a interrupção dos serviços do templo e sua contaminação.  O ídolo pagão foi estabelecido no altar de ofertas queimadas no 15o dia do 9o mês do 145o ano da era selêucida, e nesse lugar começaram os sacrifícios pagãos 10 dias mais tarde (1 Mac 1:54, 59).
No 25o dia do 9o mês do 148o ano da era selêucida, se consagrou o novo altar construído e as celebrações continuaram até 8 dias mais tarde (1 Mac 4:52, 54).  De maneira que aqui está envolvido um período de três anos, ou de três anos e 10 dias.  Nem os 2300 dias literais (6 anos, 4 meses e dois terços de um mês) nem os 1.150 dias literais (compostos por pares de sacrifícios vespertinos e matutinos para fazer dias completos) se ajustam a este período histórico, desde que inclusive o mais curto dos dois períodos se excede em dois meses.
c.       Fim.  Quando Gabriel chegou para explicar a Daniel a visão do capítulo 8, introduziu sua explicação com a declaração: “Entende, filho do homem, porque a visão é para o tempo do fim” (8:17).  Ao começo de sua verdadeira explicação, Gabriel enfatizou de novo este ponto ao declarar: “Eis que te farei saber o que há de acontecer no último tempo da ira; porque esta visão se refere ao tempo determinado do fim” (8:19).  As frases “no último tempo” e “tempo do fim” também são essenciais para uma correta identificação da ponta pequena.
Desde que a terceira e final seção da visão está maiormente relacionada com a ponta pequena e suas atividades, parece razoável concluir que a ponta pequena pertence mais diretamente ao “tempo do fim”.  O fim da ponta pequena, portanto, deveria coincidir de uma forma ou outra com o “tempo do fim”.
Como mínimo cronológico, as profecias temporais de Daniel (Dn 9:24-27) tinham que estender-se até o tempo do Messias, no 1o séc. AD.  “O tempo do fim” só podia chegar algum tempo depois do cumprimento dessa profecia.  Portanto, não há forma em que se possa haver coincidido a morte de Antíoco em 164/3 a.C. com o “tempo do fim”,  que é quando a ponta pequena chegaria ao seu fim.
5.      Natureza do fim do chifre pequeno
De acordo com a profecia, a ponta pequena devia chegar ao seu fim de uma maneira particular: “mas será quebrado sem esforço de mãos humanas” (8:25).  Esta fraseologia soa, de certo modo, de uma maneira similar com a descrição da sorte para o rei do norte: “mas chegará ao seu fim, e não haverá quem o socorra” (11:45).  O fim da ponta pequena de Daniel 7 aconteceria por uma decisão de Deus na corte celestial.  Em Daniel 2, a imagem chegava ao fim por uma pedra que a golpeava nos pés, e essa pedra era cortada sem  o auxílio de qualquer mão humana (Dn 2:45).
Todas as conclusões para as profecias de Daniel 2, 7, 8 e 11 haveriam de produzir-se pela intervenção direta de Deus na história humana.  Visto que a natureza da declaração que aparece em Daniel 8:25 (e seus paralelos nas outras profecias de Daniel), é difícil ver como Antíoco IV poderia cumprir esta especificação particular.  Até onde sabemos (cf. 1 Mac 6), ele morreu em 164/3 a.C. de causas naturais – não em uma batalha nem por circunstâncias extraordinárias – durante o curso de sua campanha pelo oriente.




6.      Origem do chifre pequeno
Qual a origem da ponta pequena?  De um dos quatro chifres ou de um dos quatro ventos?  A importância desta questão é:  se o chifre pequeno se desenvolveu a partir do chifre selêucida (uma das divisões do império grego), então ele poderia ter sido um rei selêucida semelhante a Antíoco Epifanio.  Entretanto, se procedia de um dos ventos, então não representaria a Antíoco IV, uma vez que ele procederia mais naturalmente  do chifre selêucida.  A análise da frase revela que a origem é de um dos quatro ventos, quer dizer, de uma das direções do espaço.  A compreensão da sintaxe dos vv. 8 e 9 indica que quando o chifre pequeno apareceu no cenário da ação, não procedeu do chifre selêucida nem dos outros três.  Na visão panorâmica simplesmente ele é visto como procedendo de uma das direções do espaço.  Deste modo, a sintaxe desta declaração não apoia a pretensão de que o chifre pequeno se desenvolveu a partir do chifre/reino selêucida.

A Ponta Pequena
Shea, 2:137

                  A divisão de Roma Imperial abriu o caminho para o surgimento de outro poder.  Este poder é representado por outro chifre, um 11o (7:8).  Há alguma coisa sobre este poder, entretanto, que o distingue dos outros dez.  Ele era distintamente um poder religioso, enquanto os outros eram políticos em natureza.  Assim como houve uma fase distintamente religiosa para a obra do chifre pequeno em Daniel 8, assim a ponta pequena no cap. 7 também entra em operação como um poder distintamente religioso.  Este caráter religioso é demonstrado pelas grandes palavras que ele fala contra o Deus Altíssimo e por sua perseguição dos santos de Deus (vv. 8, 25).  Estas características religiosas permanecem em contraste às ações puramente políticas dos quatro poderes que apareceram previamente na profecia.  Na discussão do chifre pequeno em Daniel 8, concluímos que esta fase religiosa de sua obra representou a igreja romana encabeçada pelo papado, desde que esta era a fase religiosa de Roma que sucedeu a fase imperial.  A mesma identificação se encaixa bem aqui no cap. 7 por um número de razões.

1.      Deve ser notada a origem da ponta pequena.  Origina-se da quarta besta romana (v. 8), e não de qualquer dos outros três prévios.  Assim este poder deve ser romano em caráter.  Mas não é a própria Roma imperial, pois aquele poder era representado pelo animal do qual este chifre cresceu.
2.      O tempo quando este chifre se levantou deveria ser notado.  Ele surgiu após os outros dez chifres.  Isto significa que ele se levantou sobre as ruínas da quebrantada Roma imperial. 

3.      Três chifres foram arrancados diante da ponta pequena.  Um fenômeno interessante ocorreu no sexto séc. AD.  Durante aquele séc. houve uma série de guerras que foram tanto política e religiosa em natureza.  Elas foram políticas porque algumas das tribos bárbaras sofreram derrotas durante o curso dessas guerras.  Mas aquelas tribos derrotadas eram cristãs!  Aqui temos o espetáculo de um poder cristão – o Império Romano liderado pelo imperador e o bispo de Roma – se opondo a outros poderes cristãos, tais como os Ostrogodos, os Vândalos e talvez os Visigodos.  Essas tribos eram cristãs, mas eles abraçavam uma espécie particular de cristianismo.  Eles eram arianos.